Opinião

Opinião: No monstro, encontrarão o ovo da serpente

‘Deu no que deu. Conquistaram o poder Legislativo, às custas do tradicional e prometido não existir toma lá dá cá’, escreve Rui Daher

Foto: Sergio Lima / AFP
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Recebo de antigo, importante e admirado amigo um gráfico produzido pelo “World in Data”, Our World in Data – Wikipedia que procura explicar a evolução do sistema capitalista, em cortes de três períodos, 1800, 1975 e 2015.

Temos aí 215 anos. Quem leu algo de economia e geopolítica entenderá. O estudo procura evidenciar as evoluções conquistadas pelo sistema e condena, peremptoriamente, as tentativas comunistas e socialistas no planeta.

O gráfico e as palavras do narrador a mim pareceram como chutar cachorro morto. Afinal, comunismo e socialismo puros não mais existem, e assim respondi com toda a reverência, pois admiro remetente interlocutor e a direita inteligente.

Afinal, meus anos de “esquerdismo infantil” ficaram para trás. Nem por isso fecharei com bolsominions, clã, pífio ministério e milicianos apoiadores.

A levada do gráfico, nos períodos referenciados, base à renda diária per capita, descontada a inflação, em Ásia e Pacífico, Europa, Américas do Norte e Sul, África, cita a história, mas a desconsidera seus importantes eventos. Linhas absolutas de miséria, como definidas pela ONU, abaixo dos dois dólares.

Guerras mundiais, invasões hegemônicas sobre países pobres, ditaduras, apropriação de recursos naturais.

Creio que, de forma mal intencionada, o World in Data, usa a China pós-Mao e a partir de Deng Xiaoping, entre 1978 e 1992, como expansão do capitalismo. Por que, então, pensadores, economistas e políticos neoliberais vivem tentado negar esse status ao Império do Meio?

Sugiro leitura de “China, o renascimento do império”, escrito por Cláudia Trevisan, (Ed. Planeta, 2006).

Na alegoria do Word in Data, da mesma forma, não se deve esquecer o impulso da Ásia, nos anos 1970, pelos avanços industriais do Japão e da tecnologia da informação, na Índia.

Não discuto, se hoje em dia poderíamos ter um sistema econômico diferente do capitalismo. Nem temos poder bélico para resolver isso na eventualidade de uma Terceira Guerra Mundial.

Quero apenas um País em que o governo incumbente favoreça os miseráveis. Nosso contingente abaixo da linha de pobreza não os faz indignados?

Sei como vive a miséria, estudei e a pesquisei por mais de seis décadas, privilegiado por suposta meritocracia. Mas, infeliz, envergonha e me sinto culpado pelo pouco que fiz. Nem precisaria. Bastaria não olhar para o lado e mirar para o próprio umbigo, bem abastecido.

Será que em País como este, faixas prioritárias conseguirão o direito de se vacinar? Como com a conduta do Regente Insano Primeiro (RIP) e seu ministro general, não médico, Eduardo “Sancho Panza” Pazzo-Ele?

Converso com meus retroses, que prendem os botões de Mino Carta, se a intenção do governo, expressa em manifestações de Jair Bolsonaro, ao dizer a culpa ser da proliferação irresponsável populacional do povo pobre no Brasil? Pesquisem. Terá o gênio consultado o IBGE para verificar a tendência de queda na evolução dos nascimentos nas próximas décadas no País? No monstro, encontrarão o ovo da serpente.

Arrependidos, eleitores, abstencionistas e anuladores? Claro que não.

Vai que dá! Pensaram. Pois é, deu no que deu. Felizes? Conquistaram o poder Legislativo, às custas do tradicional e prometido não existir “toma lá dá cá”.

Martin Wolf, Dani Rodrik, Mariana Mazzucato, Stephen Stiglitz, Paul Krugman, Piketty, não esquerdistas, hoje, e tantos no passado, como Christopher Lasch, Robert Kurz, Eric Hobsbawn, outros, que mostram a falácia a que o capitalismo financeiro levou seus tentáculos?

Para finalizar. O que acharam da festa dada pelo novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em casa luxuosa do Lago Sul, em Brasília?

Para mim, um escárnio, mais, breguice. Sem distanciamento, máscaras, desrespeito às famílias dos quase 230 mil mortos, que choram pelos seus entes queridos, mortos por conduta irresponsável de um presidente despreparado e insano.

Parabéns, eleitores brasileiros!

Inté.

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