Obrigado, Musk, por trocar o nome do Twitter por X

Não é de hoje que o Twitter apodrece em praça pública, sabotado pelo próprio dono

Foto: JIM WATSON / AFP

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A última grande ideia de Elon Musk foi jogar no lixo a marca “Twitter”, rebatizando o serviço de X. Sim, a letra X.

Fiquei incrédulo, como em muitas ocasiões desde outubro de 2022, ao saber disso. Hoje, gosto da mudança. Ela põe um fim à degradação agonizante do Twitter e ajuda a separar o legado de uma empresa imperfeita, mas que acertou bastante, do caos instaurado por Musk.

A mudança ainda está em curso, e isso também é uma confusão de dar inveja n’Os Trapalhões.

Na segunda 24, quando começou, um guindaste parou o trabalho pela metade quando desmontava o letreiro do Twitter na sede da empresa, em São Francisco. Musk não tinha licença da prefeitura para operar a máquina ali.

A marca “X”, aliás, já tem donos nos Estados Unidos, e não qualquer um: a Microsoft tem a marca X para comunicação do seu video game Xbox desde 2003, e a Meta, um registro da marca X em azul e branco para áreas que incluem software e mídias sociais.

O “rebranding” do Twitter chegou ao próprio serviço. A arroba oficial, @Twitter, foi trocada pela @x, que até a noite da terça 25 era do fotógrafo Gene X. Whang havia 16 anos.


Whang recebeu um e-mail do Twitter, digo, X oferecendo produtos com a marca (não especificou qual) e a perdível oportunidade de conhecer a turma de Musk. Sua nova arroba no serviço é @ x1234567998765.

Qualquer pessoa que trabalhe com marketing, de estudantes do primeiro ano da graduação aos maiores especialistas do mundo, dirão que é loucura aposentar uma marca ubíqua como a do Twitter.

“Tuitar” virou verbo, o Santo Graal do marketing.

Essa e outras decisões de Musk são incompreensíveis sob argumentos racionais. É como se ele estivesse queimando os US$ 44 bilhões (que não tinha à mão) que pagou pelo Twitter.

Musk é doido? Acho que não. Ou, ao menos, não por esse motivo. O que se sabe é que ele é um extremista reacionário que, antes e depois da aquisição do Twitter, sempre desdenhou de pautas que são caras a muita gente que usa(va?) e fazia o Twitter.

Vista por essa lente, a compra do Twitter e a destruição a que ele tem submetido a empresa faz mais sentido. É, como Casey Newton colocou em uma coluna recente, um ato de vandalismo cultural. Na ânsia de matar o “vírus woke” (o tipo de vírus em que gente como Musk acredita), o bilionário está disposto a matar o hospedeiro. Já matou. Descanse em paz, Twitter.

No discurso oficial, abraçado por Linda Yaccarino, outra doida que serve de CEO de fachada e bucha de canhão para Musk, a mudança da marca é o primeiro passo para a criação de um “app de tudo” — rede social, carteira digital, classificados, quadro de empregos.

Essa promessa fantasiosa não é nova, Musk a repete faz tempo, inspirado pelo WeChat chinês. No final dos anos 1990, ele havia tentado algo similar no PayPal, nome (ruim) X e tudo mais. Antes de ser a pessoa mais rica do mundo e em um ambiente onde não detinha 100% do poder de voto, foi derrotado.

Todo mundo sonha, até aqueles que têm tudo que os meros mortais sonham em ter. Sonhos, porém, são apenas sonhos antes de se realizarem. Alguém arriscaria colocar os dados do cartão em um site que quebra dia sim, dia também, e é gerido por um lunático como Musk? Eu, não.

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