Opinião

O vice falante

O general Mourão é de pronunciamentos desassombrados e nem todos vão agradar Bolsonaro

O vice falante
O vice falante
Um general de pijamas sem papas na língua (Foto: EVARISTO SA /AFP)
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Como poderá ser a relação, ao longo de quatro anos, entre Jair Bolsonaro, presidente, e Hamilton Mourão, vice, após se aconchegarem às cadeiras do poder presidencial? Muito provavelmente tudo será como o ocorrido antes. A obviedade quase sempre guia os interesses políticos. No entanto, há casos de vice-presidentes que calam e de outros que falam.

É anedota no mundo político que, caso o presidente tenha gripe, ela se transformará inapelavelmente em pneumonia na visão do vice. Sentou na cadeira surge a ambição. Mas não tanta. Ha casos de silêncio, como os de Marco Maciel, vice de FHC, e José Alencar, empresário, vice de Lula. Mas o que acontece quanto um capitão comanda um general?

Até agora, o próximo vice-presidente, general da reserva Hamilton Mourão, tem falado o que quer. O próximo presidente, capitão da reserva, tem silenciado sobre isto. Não se trata, parece, de exercício de insubordinação do vice. Mourão tem falado sobre o dinheiro, 1,2 milhão de reais destinados à mulher de presidente eleito.

Ele falou, mas considerou-se “incômodo”.

E diz: “A omissão de Bolsonaro eleva a pressão sobre o governo”.

“O Exército tem uma sigla para isso: ‘apurundaso’. Apurar, se for o caso. É isso que deve ser feito”, brincou ele na revista Cruzoé.

Mourão não tirou o pé do acelerador. Para ele, “caixinha no gabinete de Flávio Bolsonaro”, filho do futuro presidente, “seria burrice ao cubo”.

Leia também: Mourão, o 13º salário e a aposentadoria dos militares

O general vice-presidente eleito já opinou sobre relações com a Venezuela, China e Oriente Médio, entre outras coisas. Ele é um oficial já na reserva, mas com grande prestígio no Exército. Ao deixar a ativa, Mourão inscreveu-se para a eleição como presidente no Clube Militar. Foi eleito por aclamação. Ou seja, sem necessidade de disputa.

Sem considerar o confronto entre os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, há quem diga que, em certa reunião, chegaram a coçar o cabo da espada um para o outro.

Na segunda República, os vices de oito dos 37 presidentes que o Brasil teve, por variadas razões, chegaram ao poder. Getúlio Vargas, após o suicídio, foi substituído por Café Filho; João Goulart ocupou o poder com a renúncia de Jânio Quadros; José Sarney assumiu com a morte de Tancredo Neves e Dilma Rousseff foi traída por Michel Temer no golpe de 2016.

Mourão, embora falador, diz: “Não sou complicador”.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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