O velho

De repente, eu fiquei velho. Dizem que a velhice é inevitável. Para quem não morre cedo, é mesmo. Apesar dos meus cabelos insistirem em não ficar brancos, ela chegou.

Tenho medo de andar na calçada molhada e escorregar, vivo esquecendo onde coloquei o celular, não como mais pele de frango, não levanto, assim de repente, da cama, como fazia na juventude.

As pessoas passaram a me chamar de senhor e eu não estranho mais. Outro dia, uma mocinha me ofereceu o lugar no ônibus. E olha que eu não estava carregando sacola nenhuma, nada disso.

– O senhor não quer sentar?

Eu ainda olhei pra trás, pro lado, pra ver se via algum cabeça branca, mas nada. Era comigo mesmo. O senhor não quer sentar? ela insistiu. Eu, meio encabulado, agradeci, disse que ia descer logo ali.

Ando vendo TV com o volume um pouco mais alto que o normal e levei um susto quando chegou o meu cartão de crédito, válido até 2030. Quer dizer, quando eu fizer 80 anos.

Tem muitas histórias. E semana passada, que eu entrei no banho de óculos e quando ficou tudo embaçado, achei que estava tenho um AVC?

De repente, eu achei que todos os repórteres na televisão são uns meninos, umas meninas que não passam dos vinte e poucos anos.

Quando entra uma mocinha com cara de menina e o crédito mostra que ela é diretora de alguma coisa… eu sempre acho que entrou GC errado.

E quando vi aquela multidão pulando nas ruas de Olinda? Que físico, que ânimo, pensei.

Nunca poderia imaginar que veria a morte de Pelé, da Gal Costa, do Erasmo Carlos, do Zé Celso, do João Donato, da Rita Lee, da Glória Maria, minha companheira de trabalho, imagine!

E o susto que eu levei quando vi uma foto do Phil Collins nas redes sociais? Até agora ainda desconfio que aquele velhinho não é o Phil Collins que estava na capa do disco No Jacket Requied. Não é possível.

Mas tem um amigo que diz que o homem tem quatro fases: a infância, a adolescência, a idade adulta e a você está ótimo.

Apesar de tudo, acho que estou ótimo!