‘O tiro que matou Ágatha’, por Celso Amorim

.... Não pode ser esquecido ou perdoado. Leia o poema do ex-chanceler Celso Amorim

A garota Ágatha Felix, de 8 anos, que foi morta por um tiro de fuzil de no Complexo do Alemão. (Foto: Reprodução/Facebook)

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O tiro que matou Ágatha

não foi uma bala perdida.

 

O tiro que matou Ágatha

partiu de um policial militar cioso

da orientação superior.


 

O tiro que matou Ágatha partiu

de quem disse que ia mirar na

cabecinha e errou o alvo.

 

O tiro que matou Ágatha saiu

daquela “arminha” simulada

com gesto de mão.

 

O tiro que matou Ágatha partiu

de uma sociedade que não

tolera negros e pobres.


 

O tiro que matou Ágatha saiu da

pistola na cintura de um deputado.

 

O tiro que matou Ágatha não

foi efeito colateral do combate

aos narcotraficantes.

 

O tiro que matou Ágatha não foi

desferido por mão inexperiente.

 

O tiro que matou Ágatha


já havia atingido Marielle.

 

O tiro que matou Ágatha não

pode ser esquecido ou perdoado.

 

Não há anistia para quem

mata uma menina de 8 anos.

 

Uma menina pobre e negra

que habitava uma favela

e se identificava com

a Mulher Maravilha.


 

Uma menina que sonhava

sonhos que não conhecemos,

mas que podemos imaginar.

 

Nós que temos filhos e netas

que julgamos protegidas por

situação social ou limites urbanos.

 

O tiro que matou Ágatha

não pode ficar impune,

 

Sob pena de levarmos

para sempre o peso dessa

morte em nossos corações.

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