Opinião

O terrorista bolsonarista e a anistia

O atentado fracassado de Tiu França é a oportunidade de se colocar um ponto final nessa lengalenga

O terrorista bolsonarista e a anistia
O terrorista bolsonarista e a anistia
Foto: Sergio LIMA / AFP
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Para a sorte dos alvos, antes e agora os terroristas de direita no Brasil não aprenderam nada com as “barbeiragens” do Riocentro, quando a bomba destinada a provocar uma tragédia no show comemorativo do Dia do Trabalhador explodiu no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário. Continuam mais incompetentes do que perigosos ou lunáticos. Se os Estados Unidos têm Thimothy McVeigh, o Brasil entra em campo com Tiu França.

O homem-de-bem-bomba bolsonarista almejava virar um mártir. Tornou-se meme, piada na internet. “Era um pai de família, mas um pouco explosivo”, disparou alguém nas redes sociais. “O PL está bombando”, soltou outro, em referência ao fato de França ter sido candidato a vereador na sua cidade natal, Rio do Sul (SC), pela legenda incubada por Jair Bolsonaro e associados. A população local provavelmente conhecia bem o “guerrilheiro” extremista, tanto que lhe concedeu meros 98 votos em 2020. Impedido pelos vizinhos e conhecidos de corroer o “sistema” por dentro, de tijolo em tijolo, Francisco Wanderley Luiz decidiu explodir tudo de uma vez. O artefato, desta feita, não irrompeu no colo, mas na nuca. Prováveis vazios anatômicos nos dois casos.

O aspecto bananeiro do atentado não permite, porém, a continuidade da operação limpeza, embora o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, tenha mantido o hábito de amenizar a gravidade dos fatos, quando se trata de uma intervenção desvairada da extrema-direita. Não governador, Tiu não era um suicida. Era um terrorista, tosco a ponto de se tornar vítima de si mesmo, mas terrorista. E pode ter agido sozinho na quarta-feira 13, mas seus comparsas e mentores estão por aí, urge chamá-los à responsabilidade.

Nas últimas semanas corria célere o plano de anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023, que incluiria Bolsonaro. Até a mídia “profissional”, boneco de vodu do ex-presidente durante o mandato, aceitou lustrar a imagem do aspirante a ditador. O fez supostamente em nome da “pluralidade”. Enquanto a turba que invadiu a sede dos três poderes é descrita como um “bando de vândalos”, como se fossem crianças a fazer uma traquinagem na casa da avó, a Folha de S. Paulo nos apresenta as virtudes democráticas do ex-capitão. Infelizmente, o conceito de democracia é peculiar: só vale se as minorias, a oposição, em suma, quem pensa diferente, for trancafiado em uma cela ou fuzilado no paredão. Inconveniente a ser ignorado em nome da liberdade absoluta.

O atentado fracassado de Tiu França é a oportunidade de se colocar um ponto final nessa lengalenga. Livrar a cara de fascistoides agora seria contratar o golpe de amanhã, assim como a falta de punição aos repressores da ditadura mantém o poder civil refém da pirraça dos militares.

“Não existe a possibilidade de pacificação com anistia a criminosos”, declarou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após o episódio. Nada a acrescentar.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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