

Opinião
O século das pandemias
Gripe aviária influenza A (H5 N1), hoje no radar da OMS, implica no risco de um novo surto e reforça a importância das vacinas


Em dezembro de 2021, em uma fazenda no extremo leste do Canadá, ocorreu a primeira detecção do vírus influenza A (H5N1) na América do Norte. Inicialmente, ele surgiu isolado em uma gaivota selvagem doente e, em seguida, levou ao diagnóstico de morte de centenas de pássaros e aves domésticas na mesma fazenda.
Esse vírus já havia sido identificado em um surto isolado na China, em 1996, mas nunca na América.
A hipótese era a de que as aves migratórias teriam transportado o vírus. Em janeiro de 2022, detectou-se o vírus nos EUA, em aves selvagens da Carolina do Norte. Em julho de 2022, centenas de focas foram encontradas mortas em Quebec.
Surge então a explicação de que as focas possam ter se infectado por estarem próximas às aves ou por se alimentarem de aves doentes.
Em meados de outubro de 2022, após ter se espalhado em aves selvagens e domésticas e algumas espécies de mamíferos nos EUA e Canadá, o vírus já era visto em animais marinhos no México e na Colômbia, provavelmente também levado pelas aves migratórias.
Mortes em massa de pelicanos no Peru foram constatadas em novembro de 2022 e, no começo de 2023, milhares de leões-marinhos morreram infectados pelo A (H5N1).
Tal mortandade se espalhou para elefantes-marinhos e focas no Uruguai e Sul do Brasil nos meses seguintes e continua seguindo e infectando mamíferos e aves em direção à Terra do Fogo.
Essa mudança de comportamento do vírus que agora afeta mamíferos está causando uma grande preocupação nas autoridades sanitárias nacionais e mundiais, que temem o risco de uma nova pandemia humana.
Serviços de vigilância epidemiológica estão sendo colocados em alerta e projetos de pesquisa são incentivados no Brasil e no mundo.
Os casos em humanos ainda são raros. Mas, no final de março de 2024, um caso de infecção humana pelo vírus influenza A (H5N1) foi identificado nos EUA após exposição a gado leiteiro provavelmente infectado com gripe aviária.
As aves infectadas eliminam o vírus através de sua saliva, muco e fezes. Outros animais infectados podem ter o vírus presente em secreções respiratórias, sangue ou em outros fluidos corporais, incluindo o leite animal.
A propagação do vírus da gripe aviária de uma pessoa para outra é muito rara, no entanto, os vírus influenza são muito propensos a mutações e podem adaptar-se e mudar seu comportamento biológico de maneira imprevisível.
Infecções humanas pelo H5N1 podem acontecer por contato com secreções infectadas de animais – contaminando olhos, nariz e boca – ou por gotículas dispersas no ar que podem ser inaladas, adentrando o sistema respiratório.
A gravidade da doença é variável, podendo se apresentar com sintomas gripais leves, conjuntivite e dor de cabeça, febre ou mesmo com pneumonia e insuficiência respiratória.
Vivemos o chamado Século das Pandemias.
Mudanças climáticas, adensamento populacional mundial e destruição do meio ambiente contribuirão progressivamente para o surgimento de doenças desconhecidas.
Mas, diferentemente do que acontecia nos tempos da Gripe Espanhola, dispomos atualmente de uma tecnologia de produção de vacinas mais rápida e eficiente.
As vacinas baseadas em RNA mensageiro possibilitam a produção rápida de imunizantes eficazes contra vários patógenos simultaneamente.
Atualmente, está em desenvolvimento uma vacina dupla contra Covid-19 e influenza que deverá estar disponível nos EUA em alguns meses.
Observou-se que a associação destes dois patógenos na mesma vacina confere maior imunidade a ambos, em comparação a vacinas isoladas.
Além disso, a segurança das vacinas de RNA mensageiro foi comprovada. Estudos em desenvolvimento preveem vacinas que possam prevenir até 20 patógenos em uma só imunização, o que simplificaria o calendário vacinal de crianças, por exemplo.
As vacinas da gripe e da Covid-19 não impedem que você pegue a doença, mas impedem casos graves, hospitalizações e óbitos, pois fortalecem seu sistema imunológico para combater esses agentes. Mantenha sua vacinação em dia. •
Publicado na edição n° 1327 de CartaCapital, em 11 de setembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O século das pandemias ‘
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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