Opinião

O ranço escravocrata que faz do Brasil uma presa fácil ao imperialismo

Não foi por acaso que o desgoverno de extrema-direita adotou o mesmo bordão de Donald Trump e Adolf Hitler: ‘Brasil acima de todos’

Congresso Nacional, em Brasília. Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil Congresso Nacional, em Brasília. Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
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O filósofo francês Michel Foucault deu grande contribuição à história do pensamento, ao dissecar a violência da sociedade e do estado, contrapondo autoritarismo e democracia, na interpretação social.

Cabe como uma luva para entender o Brasil, sociedade impregnada de ranço escravocrata, machista e plutocrata.

Por isso, fomos presa fácil do imperialismo, cuja linguagem é a violência, por excelência. Violência coletiva, contra pessoas, cultura e bens de uma nação.

A violência, assim como o lucro, não respeita barreiras. Só a força da legitimidade a detém. Transbordar é destino e vocação dela.

Não foi por acaso que o desgoverno de extrema-direita adotou o mesmo bordão de Donald Trump e Adolf Hitler: “Brasil acima de todos” (América e Alemanha nos outros dois casos).

Para o imperialismo, faz todo sentido. Para um país em rápido processo de recolonização, só resta o grotesco, que pode ser perigoso, muito.

A colônia Brasil acaba de votar como a metrópole EUA determinou: pela invocação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA). Mais uma nódoa que não se apagará da história diplomática brasileira.

O infame voto brasileiro visa a legitimar uma agressão armada ao país vizinho e irmão, a Venezuela. Os que têm filhos e netos deveriam preocupar-se, seriamente.

Quem invocou o TIAR foi outra colônia, a Colômbia, que como o Brasil outrora fora país independente, terra do grande, imenso Gabriel Garcia Márquez.

Segundo a colônia Colômbia, a Venezuela estaria abrigando narcoterroristas. Na verdade, a colônia Colômbia sabe que quem abriga os produtores de coca é ela própria, como pude verificar com meus próprios olhos.

A razão das plantações de coca é passível de ser entendida por qualquer pessoa: ao não prover infraestrutura mínima para os camponeses, como estradas ou transporte fluvial, não resta alternativa econômica ao camponês senão plantar algo com alto valor agregado, elidindo, assim, os custos dos fretes impraticáveis.

Ou seja, é o estado mínimo pregado por pessoas tão carentes de neurônios, como o miliciano mor e seu sinistro da economia, que induz o agricultor – de forma determinista – ao plantio da coca na Colômbia, o que está à vista de quem se der ao trabalho de ir até lá.

Por isso, não pensemos que a violência, ou sua forma mais dantesca – a guerra -, sejam alheias ao capitalismo e ao autoritarismo que vivemos. Não são. São parte integrante deles, que delas se nutrem para gerar o irracional, o medo, o demônio, de modo a cegar os oprimidos e a apoiarem e votarem nos opressores.

De fato, racionalmente isso não seria possível, correto?

Portanto, faz-se necessário ao capitalismo e ao autoritarismo, ao perceberem que as classes dominantes estão em risco de perda de poder – não estritamente econômico – gerar a demonização do inimigo, os partidos de esquerda – no caso do Brasil, como fora na Alemanha e nos EUA.

Dessa maneira, passa-se de um discurso político mais restrito para um mais amplo, de caraterísticas teológicas.

Não foi à toa que a direita católica e as igrejas neo-pentecostais foram tão importantes para a eleição da extrema-direita. Só a irracionalidade, o discurso do medo, da demonização permitem que as pessoas deixem de perceber seus interesses, sua identidade, sua cultura e votem no próprio opressor.

Simbólico também que as Forças Armadas não percebam quem é o inimigo e, dessa forma, deixem-no penetrar a roubar a casa.

Como o Cristo dizia, se o dono da casa soubesse a que horas o ladrão chegaria, ele o esperaria armado e o repeliria. Mas quando não se consegue sequer identificar quem é o ladrão, como defender a casa?

O voto brasileiro na OEA terá sido feito com o consentimento dos militares.

Em meio a um cenário tão nebuloso, onde identificar a esperança? Pois o ponto luminoso sempre subsiste em meio às trevas, como nos recorda a imagem do Yin e do Yang.

Lembremos que a ditadura assassina na Argentina, em 1982, com baixíssimos índices de aprovação, como o não-governo que temos atualmente no Brasil, levou os generais genocidas à invasão das Malvinas, onde morreram – muitos de frio – milhares de jovens argentinos.

Os generais responsáveis por aquela catástrofe foram condenados à prisão perpétua.

Esperemos que a evidente analogia com a situação atual brasileira iniba a camarilha de impetrar uma agressão externa a mando do imperialismo, que serviria à demonização, fazendo com que jovens pobres e negros latino-americanos viessem a morrer, para garantir aos brancos e ricos do Norte o acesso às maiores reservas de petróleo do mundo.

Que os setores lúcidos das Forças Armadas e do Itamaraty (sim, Deus, eu conheço ao menos um justo no Palácio dos Arcos) não se dobrem, para que os sinos não venham a dobrar pelo assassinato de Abel por Caim. Deus, Amor ou o nome que se quiser dar, não nos perdoará.

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