Esther Solano

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Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Complutense de Madri e professora de Relações Internacionais da Unifesp

Opinião

O que pensam os bolsonaristas sobre golpe, urna eletrônica e pandemia

No universo paralelo dos radicais, o presidente é o maior dos democratas e quer cuidar do Brasil

Foto: Sergio Lima/AFP
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Quando o terror é ficcional, a gente esquece rapidamente. Basta desligar a tevê, fechar os olhos e toda aquela atmosfera de medo desaparece. Mas, quando o terror é real, daqueles que você encontra na rua, nas páginas dos jornais, no elevador, então ele é inesquecível, porque teima em se apresentar diante de nós a qualquer momento. É como um pesadelo repetitivo, que retorna uma vez após a outra, afastando a possibilidade de viver com o mínimo do sossego que todos merecemos. Nas últimas semanas, tenho feito algumas entrevistas com bolsonaristas radicais. Quero contar um pouco do conteúdo delas. Histórias de terror na veia. Terror real. Terror que não desaparece. Terror com o qual somos forçados a conviver diariamente.

Primeira pergunta: “Bolsonaro é autoritário?” Resposta: “De modo algum! Bolsonaro é o maior dos democratas. Ele tem esse jeitão dele de falar, sim, às vezes diz alguma asneira, mas não faz por mal. Ele é autêntico, honesto, verdadeiro, não é como os outros políticos, que só repetem o que os marqueteiros mandam. Falam bonitinho, mas sempre mentiras. Bolsonaro se preocupa com o Brasil. Ele sempre aceitou a opinião da maioria, sempre aceitou o que o Congresso disse e até aceita o que o STF decide. Autoritário, na verdade, é o Congresso, uma corja de ladrões. Autoritário é o STF, que libertou Lula e quer derrubar o Bolsonaro. Não existe democracia no Brasil, mas não é por culpa de Bolsonaro, ele é um democrata”.

Segunda pergunta: “E a pandemia?” Resposta: “Bolsonaro sempre quis cuidar dos brasileiros, mas não deixam o homem trabalhar! O STF deixou a gestão da pandemia nas mãos de governadores e prefeitos. A culpa pelos mortos é deles, que politizaram a pandemia para confrontar o governo, fizeram um ­lockdown sem sentido só para tentar tirar Bolsonaro. A cloroquina é um remédio que está no mercado há muito tempo, tem médico que receita, tem estúdio que recomenda. Eu mesmo tive familiar que melhorou por conta dela. Então, por que todo esse auê?”

“Querem tirar Bolsonaro e não sabem como. A CPI da Covid é uma farsa, um teatro para atingir o governo. Só tem gente da oposição nela, só tem corrupto, olha aí o Renan Calheiros, dá para confinar nele? O presidente da Pzifer disse que Bolsonaro demorou para comprar vacina. Sim, demorou. Mas isso faz dele um genocida? Ao contrário. Ele demorou porque é um homem cauteloso, não podia sair comprando vacina sem ter o aval da Anvisa, porque Bolsonaro respeita a ciência brasileira, não podia sair gastando dinheiro à toa. Não somos os Estados Unidos nem um país rico. A Pzifer também vacilou em entregar toda a documentação a tempo e agora querem culpar o Bolsonaro. Ele não fez mais do que a obrigação dele, não comprar algo tão importante como uma vacina até não ter total certeza.”

Terceira: “E a urna eletrônica?” Resposta: “Fraude. Se não houver voto impresso, não tem como auditar. Se o PT ganhar as eleições em 2022 sem voto impresso, com certeza foi fraude. Não dá para confiar na urna porque um hacker do PT pode fraudar, e também não tem como confiar na Justiça Eleitoral. Como você vai acreditar no TSE, se é a mesma corja que ocupa o STF? Eles podem fraudar os votos, sim. Se Bolsonaro perder para Lula em 2022, não aceito e vou para as ruas pedir recontagem, auditoria”.

Quarta: “Fechar o Congresso, fechar o STF… é golpe? Resposta: “Não, fechar o Congresso e o STF será bom para a democracia. Na verdade, não é exatamente fechar, é só limpar. Vai lá, tira todo o mundo, despois coloca gente honesta, reforma a Constituição, as leis que têm a ver com política, tira as regalias dos políticos, reforma o Código Penal. E no STF a mesma coisa, vai lá e tira os juízes, bota outros que não entrem por indicação, que entrem por mérito, que não sejam políticos. Não ia melhorar a democracia?”

É isso. Terror baseado em fatos reais. Se fosse fanfic, não seria tão brutal. Daria para reescrever, para fingir que está tudo bem, para “desler”, seguir para a próxima página. Bolsonaro é o maior dos democratas e ele quer cuidar do Brasil. Durmam com essa, 500 mil mortos…

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1163 DE CARTACAPITAL, EM 24 DE JUNHO DE 2021.

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