Opinião

O que o vírus mostra

Mais sociedade organizada será a fórmula principal para a reconstrução do Brasil e da vida em âmbito internacional

Agentes da Cruz Vermelha atuam no enfrentamento do coronavírus na Índia (Foto: IndianRedCross / Fotos Públicas)
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“O vírus mostra que cabe a nós, os cidadãos, sujeitar a maior controle aqueles que governam, certamente não o contrário.”
Slavoj Zizek

Em meio à pandemia – e ao pandemônio, no caso brasileiro -, perguntamo-nos como a humanidade – e o Brasil, em particular – pode chegar a essa situação.

Sobre a eclosão do vírus, há, evidentemente, mais de uma teoria.

Desde o descongelamento do Himalaia, onde vários outros vírus estariam congelados há milênios, até as agressões à fauna e flora, reduzindo as áreas silvestres e, dessa forma, aproximando, de maneira compulsória, seres humanos e animais.

A primeira teoria explicaria a razão dos brotes epidêmicos recentes terem-se originado na China.

A segunda, corroboraria o entendimento de que o avanço populacional desmesurado facilitaria o contágio em casos de zoonoses, doenças animais transmissíveis aos humanos.

Interessante notar que em um dos outros quatro países contemplados com os Himalaias, a Índia, surgem notícias promissoras sobre o enfrentamento do vírus.

O estado de Kerala, um dos 28 estados indianos, no extremo sul do país, tem enfrentado a pandemia com medidas que buscam garantir tanto o isolamento horizontal da população, quanto a provisão de renda mínima.

Vale notar que também o Papa Francisco, em sua mensagem “Urbi et Orbe” (para as cidades e para o mundo), do dia 12 de abril, Domingo de Páscoa, propugnou pela adoção de renda mínima universal.

Com efeito, trata-se de pleito, de fato e de direito, corretíssimo: sem uma renda mínima não se pode esperar que os socialmente mais vulneráveis possam isolar-se, uma vez que não contam com reservas para tanto.

Ao lado disso, vale observar que o direito à saúde é direito humano, sendo, portanto, fundamental e universal, cabendo aos estados sua proteção, promoção e provisão.

Como obter isso?

A fórmula acima, do filósofo político Slavoj Zizek, parece ser a única factível: com maior controle da população sobre os governantes.

Trata-se da boa e velha democracia participativa, sem a qual os governos degeneram, sejam eles de direita ou de esquerda.

 

O que ocorre no Brasil é exatamente isso: uma camarilha construiu um cavalo de Tróia, a Lava Jato, e por meio daquela operação tomou conta do estado brasileiro, em proveito próprio e do imperialismo internacional, principalmente o estadunidense.

Como salvar o país e seus habitantes?

Não parece haver outra fórmula senão a enunciada por aquele brilhante filósofo político europeu: mais controle da população sobre o governo.

Um dado impressionante corrobora esse entendimento, no caso brasileiro: a redução da presença da polícia nas favelas do Rio de Janeiro, durante a quarentena, reduziu em 60% o número de homicídios naquelas comunidades.

Mais sociedade organizada será a fórmula principal para a reconstrução do Brasil e da vida em âmbito internacional.

Se verificarmos o que vem ocorrendo aqui nestes tempos de pandemia é exatamente isso: diante de um governo irresponsável, a sociedade assumiu a autoproteção por si mesma.

Como seria importante que essa lição pudesse perdurar e se ampliar para outros campos, como o da segurança alimentar, energética e financeira, entre outros!

Formarmos redes, em círculos concêntricos, até nos entrelaçarmos com os irmãos e irmãs da América Latina e Caribe, e assim por diante.

O egoísmo a nada leva.

Imaginemos um caso hipotético: um certo dono de restaurante, em hipotética Curitiba, era proprietário de um charmosíssimo estabelecimento, na área central mais nobre da cidade.

Servia pratos poloneses, russos e ucranianos (a outrora “Pequena Rússia”). Qualquer um de nós estaria felicíssimo em poder servir tão bem e trocar impressões, pensamentos e aprendizados em seu trabalho.

Mas não ele, que resolveria aliar-se ao mais mesquinho dos lojistas brasileiros (isso não é dizer pouco) e abrir rede de fast-food, junto às horríveis lojas do segundo.

Embora ambos tivessem em muito se beneficiado do estado em proveito próprio, não hesitariam em derrubar um governo legitimamente eleito, por meio de golpe de estado.

Exploravam empregados, das mais variadas formas, graças à relação promíscua que estabeleceram com o governo ilegítimo.

Sucedeu a pandemia e o que fizeram os flibusteiros: demitiram em massa, retirando a renda mínima vital de que aqueles necessitariam para sobreviver em meio ao caos sanitário, gerado pelo desgoverno.

Termino contando um “causo”: há alguns anos, estive no Equador e, sendo domingo, fui à missa, na belíssima igreja barroca de São Francisco, em Quito.

Como forasteiro, fiquei mais para trás, inclusive para melhor observar as riquezas pictóricas daquele magnífico templo.

Para minha surpresa, em uma igreja lotada, eu podia ver tudo e todos à minha frente, pois era o mais alto, em meio a centenas de pessoas.

Que a pandemia nos faça ressuscitar, como o Cristo, para a vida – e vida em plenitude – como acrescentou João, o Evangelista, o discípulo que Ele amava.

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