Alguma coisa fez com que a expressão “operação militar especial” soasse, ao menos a nós ocidentais, tão cínica, tão revoltante – e tão insuportável. Aquelas primeiras imagens das estações de comboios ucranianas nos fizeram olhar em silêncio como normalmente fazemos diante de alguma coisa extraordinária e inesperada. Espanto, acho que é a isto que chamamos espanto. E, no entanto, o que ali havia de novo não era verdadeiramente uma novidade. O que ali havia de novo era o passado. O regresso de “um passado que não quer passar”. Alguém disse que agora era a guerra de verdade. Acho que acertou.
As imagens pareciam de outro mundo que apenas conhecíamos dos filmes e da memória histórica – as crianças que choram, as mães que fogem, os pais que ficam para lutar. Se aquelas fotografias fossem em preto e branco não saberíamos que datas lhes atribuir. Depois vieram as imagens de estradas destruídas, dos edifícios bombardeados, dos corpos nas ruas. O inferno da guerra. O regresso da guerra. Mas exatamente o que regressa? O que há de novo nesta guerra? Não foi ela sempre assim, sempre bárbara, sempre cruel, sempre sanguinária? O que há agora de diferente? O que há de novo não é exatamente o regresso da guerra, mas o regresso de um certo estilo de guerra. Algo que julgávamos posto de lado pela história. Ao menos na história europeia.
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