Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

O presidente maluquinho (sim, já tivemos outro assim)

Quase seis décadas depois, o que todo mundo pergunta nos botecos é: quanto tempo o Bolsonaro vai durar?

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O que não tem governo nem nunca terá. O que não tem vergonha nem nunca terá.  O que não tem juízo… (Chico Buarque)

Já tivemos sim, um outro presidente assim. Eu tinha onze anos quando ele tomou posse e, se forçar um pouco a memória, vou me lembrar dele andando de bonde na Rua da Bahia, em Belo Horizonte, fazendo campanha. Suado e meio maltrapilho, subia no bonde e colocava um boné de condutor, consertava o cabelo que não tinha conserto, ajeitava os óculos de aro grosso e se misturava ao povo, fazendo discursos com um sotaque cem por cento paulistano.

A musiquinha da campanha tomou conta do Brasil e nunca saiu da minha cabeça:

Varre, varre, varre, varre vassourinha!

Varre, varre a bandalheira!

Que o povo já tá cansado

De sofrer dessa maneira

A vassoura era a sua logomarca e ele costumava tirar fotos empunhando uma de piaçava, sua arma contra a corrupção que já havia por aqui, naquele 1961.

Foi nesse ritmo de varrer a bandalheira e nessa euforia popular e populista que, um dia, o homem acabou elegendo-se presidente da República. Vestiu um terno melhorzinho pra posse e foi pra Brasília, que ele odiava.

Antes do Carnaval chegar, o novo presidente começou a agir. O primeiro ato foi, em nome da família e dos bons costumes, proibir o uso do biquíni. Numa época em que já tinha gente de olho no monoquíni, ele voltou aos tempos dos maiôs Catalina.

O segundo ato foi mandar pintar todos os carros oficiais de preto e escrever na porta: Serviço publico federal/Uso exclusivo em serviço. Junto com essa medida, pensou em uniformizar os funcionários públicos. Todos teriam de usar um slack caqui para ir trabalhar. Da mulher do café até a chefe do almoxarifado. Do porteiro ao poderoso chefão. O uniforme foi logo apelidado de pijânio e nem deu tempo da moda pegar.

Depois que conseguiram tirar essa ideia da cabeça do presidente, ele começou a implicar com os galos de briga. Numa canetada, proibiu as rinhas no país, para tristeza geral dos criadores de galos índio. Brigas oficiais, nunca mais. Elas passaram pra clandestinidade, bem como todos os outros bichos do jogo.

O presidente era exótico dos pés à cabeça. Passou a usar slacks ao invés de terno pra dar bom exemplo. Só vestiu terno no dia em que colocou a faixa da Ordem do Cruzeiro do Sul no peito do companheiro Che Guevara, o que provocou a ira do Tio Sam, como eram chamados os americanos naquela metade do século passado.

Numa era sem Twitter, do lápis e da caneta tinteiro, o presidente governava através de bilhetinhos. Andava com um bloquinho num dos bolsos do slack e a toda hora mandava e desmandava, despachando os bilhetinhos.

O presidente durou pouco no poder. Sete meses e o governo foi embora, prematuro. Num desses bilhetinhos, deixou uma mensagem pra nação garantindo que foram forças terríveis, forças ocultas que estavam tramando contra ele e que o levou a renúncia. O presidente pegou o boné e foi embora.

Bat Masterson era uma figura lendária do Velho Oeste americano e fazia muito sucesso na televisão em 1961. Sua musiquinha também grudou no ouvido de todos:

No velho Oeste ele nasceu,

E entre bravos se criou

Seu nome lenda se tornou,

Bat Masterson, Bat Masterson

Rapidinho, a canção virou uma paródia que se espalhou pelo nosso faroeste caboclo:

No Mato Grosso ele nasceu

E em São Paulo se criou

Foi pra Brasília e governou

Mas não aguentou, renunciou

Foram sete meses de bizarrice, trapalhadas, chacotas, piadas e incertezas. Agora, quase seis décadas depois, o que todo mundo pergunta nos botecos é: quanto tempo o Bolsonaro vai durar?

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