Opinião

O preço dos alimentos

Neste novo normal, o que fazem nossos amigos e amigas repórteres de campo das folhas e telas cotidianas, mandados por seus chefes de Redação?

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
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Não, não ando bem. Pensei que tudo seria mais suave depois da virada do ano com o novo presidente eleito, democraticamente, sem direito às sandices bolsonaristas no que se referia às urnas.

O Capitão, patente autodenominada, esquecido dos atos infames de quando, nas casernas, além de caiar meios-fios, jogar peteca no Posto Seis da Praia de Copacabana, Rio de Janeiro e, dizem, não ter pescado único peixe que justificasse aos militares o nome de Clube dos Marimbás, sediado no Forte de Copacabana, promoveu uma rebelião para aumentar o soldo dos militares.

Nesta quarta-feira 27 de março, dia da semana meio bobo, parece e faço-o parecer um domingo, dia em que escrevo, retendo “força estranha” (Caetano Veloso), de ódio, origem de convicções marxistas, sempre afrouxadas pelos padres beneditinos que me educaram sob o cabresto do rico Estado do Vaticano e papas que, há séculos, aos domingos, vão a uma protegida janelinha dizer que o “mundo precisa amar ao próximo”.

Entendo. Os tais próximos da fila” serão os oito bilhões de humanos, a serem atendidos? Entre eles estarão incluídos os ucranianos e russos, massas de manobra de Vladimir Putin e do arsenal bélico do Estado de Israel? Cadê o Estado Palestino?

É bem verdade que nós e o Papa sabemos que a fila não guarda posições as mais justas. Há uma tal de meritocracia ao furar a fila, não? Making Money? Never.

Gargalho e fico pior ainda do que comecei. Em ódio. Existo em grande vazio emocional. Minha vida social parcializou depois do acidente de medula que me deixou sem autonomia móvel (pós-evento na Avenida Paulista, em manifestação contra o fascismo).

É quando aparvalho e vejo o desempenho do governo, em pouco mais de um ano, começar a reconstruir o País, o que era previsto para uma década, fruto das teratologias bolsonaristas, ser mal avaliado em pesquisas de opinião recentemente divulgadas.

 Aos que insistem em inflação dos alimentos nas costas de caboclos, campesinos, camponeses, lavradores, produtores rurais, sertanejos e tabaréus, o colunista explica e espera que, desta vez, entendam.

Em primeiro lugar, porque todos os coleguinhas falam em “preços dos alimentos”, sem ter a menor ideia dos “custos dos alimentos”. Nenhum, aposto, terá, pelo menos, pesquisado dados de CEPEA/ESALQ, CONAB, INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA (IEA), CATI.

Menos ainda terem realizado visitas presenciais aos campos de plantio e conversado com aquela família que, na época certa do ano, acompanhou a “moça do tempo” ou os institutos meteorológicos pela internet e ousou (certeza nunca haverá) semear a terra.

Não minto. Esse era meu roteiro. Talvez mais frequente quando com a mobilidade perfeita, mas ainda assim continuo a fazê-lo. Não, não cheguei ainda a uma ‘almanjarra em sala sombria’ – literatura geriátrica, fraterno amigo.

Neste novo normal, o que fazem nossos amigos e amigas repórteres de campo das folhas e telas cotidianas, mandados por seus chefes de Redação?

Uma rápida incursão a supermercados ou feiras-livres. Uma chamada em rodapé de tela: “Inflação dos alimentos castiga classe pobre”. Ao vivo ou editado, frente a um balcão de frutas ou legumes e hortaliças.

– Dona Lucineide, a senhora sempre compra aqui nesta feira? Os preços dos alimentos aumentaram muito?

– Uma barbaridade, dona repórter, não só aqui. Tudo, ovos pelos olhos da cara, o frango, que antes era mais barato que a carne, subiu de preço. Tô partindo para o porco, mas sei que logo também aumentará.

Apresentada a matéria, algum analista, de preferência moça de profundos olhos azuis pontuará:

– O pior é que a inflação dos alimentos sempre atinge de forma mais forte as classes pobres.

Verdade é que caboclos, campesinos, camponeses, lavradores, produtores rurais, sertanejos e tabaréus, por incrível que pareça, assistem à TV, consultam plataformas digitais, alguns até leem jornais e revistas e, mais surpreendente, trocam ideias, conversam entre si, conhecem seus negócios ou atividades laborais, enfim, pensam.

– Uai, coisa louca, sô… Neste ano vendi a caixa de alface 18% mais barata… E eu que não vendi nada das batatas e cenouras, tanta chuva as deixou defeituosas e impossíveis de comercializar… Bem, há jornalistas dos bons que acham que tomate é tubérculo… Em qual rabo eu vou enfiar a alta do custo de energia de minha granja… Será que ninguém viu o que as chuvas de granizo fizeram com as plantações de arroz no Sul, por onde passei nos últimos dias… Maior sacanagem é quando se queixam do preço do feijão, o Paraná vai colher uma ótima safra e logo vamos ter que baixar os preços e ninguém fala que plantamos a custos altíssimos dos insumos… Eu estou cortando o café e passando pra soja e milho… Quero ver quando a oferta de café cair onde vai parar o seu preço.

– Gente, quer dizer que só dá para plantar soja e milho? Cotação externa, variação cambial, etanol de milho, as vaquinhas, tadinhas, se alimentando de milho caro, como ficam os custos do leite, dos queijos, Dona Lucineide?

– Pelos olhos da cara.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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