Sergio Takemoto

Presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)

Opinião

O Pix não aposentará a Caixa Econômica Federal

Bolsonaro chegou ao ponto de dizer que ‘o PIX está aposentando a Caixa Econômica’. Para provar ao presidente o tamanho e a relevância do ‘banco da matemática’, vamos ao números

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Qual é o banco que concede 70% do crédito para habitação popular no Brasil? E a instituição financeira que cuida do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o FGTS, considerado a “poupança do trabalhador”, que financia a casa própria, o saneamento básico e socorre quem perde o emprego ou é acometido por doença grave?

Que banco está presente em quase 100% dos 5.570 municípios para que ações sociais cheguem a quem mais precisa? Na pandemia da Covid-19, qual foi a estatal que pagou mais de R$ 354 bilhões em auxílio emergencial e outros benefícios para 126 milhões de pessoas (mais da metade da população)?

Que empresa pública honra o pagamento de R$ 16,6 bilhões a famílias carentes que recebem o Auxílio Brasil – recursos que ultrapassaram R$ 36,5 bilhões em 2016, com o Bolsa Família? Qual banco concedeu 287.347 financiamentos estudantis pelo Fies, só em 2015?

Quem faz tudo isso pelo Brasil é a nossa centenária Caixa Econômica Federal. Presente na vida dos brasileiros desde 1861, o banco foi fundado no dia 12 de janeiro daquele ano, por decreto de Dom Pedro II, em um momento que se intensificava o sonho da liberdade no país. Surgia a Caixa, com o propósito de incentivar a poupança, conceder empréstimos sob penhor, realizar o sonho dos brasileiros por oportunidade, ascensão social e um futuro melhor.

Passados 161 anos de consolidação e fortalecimento do banco público dos brasileiros, o atual presidente da República chega ao ponto de dizer este mês, em um evidente ato falho, que “o PIX está aposentando a Caixa Econômica”. A fala de Bolsonaro comprova, portanto, as reais intenções do governo de, sim, privatizar até a Caixa Econômica Federal.

Ora, sem desmerecermos a contribuição desta nova ferramenta ao universo bancário, seria o PIX capaz de “aposentar” um patrimônio desta dimensão e importância para o país? Para provar ao presidente (se é que ainda precisa!) o tamanho e a relevância do “banco da matemática” que este governo pretende ir vendendo ao mercado — como é o caso, por exemplo, da subsidiária Caixa Seguridade — vamos a mais números.

A Caixa possuiu uma rede de atendimento formada por 25.843 unidades, entre agências (3.372), lotéricas (13.422) e correspondentes Caixa Aqui (9.049). São 86 mil empregados que provaram ser essenciais ao Brasil, especialmente na pandemia, quando se mantiveram na linha de frente do atendimento à população, inclusive em finais de semana e jornadas prolongadas de trabalho.

Dos 146,2 mil clientes do banco, mais de 144 mil são pessoas físicas: gente que diariamente precisa da Caixa Econômica Federal para ter acesso a crédito mais barato, ao Fies, à casa própria.

Só na poupança, são 200,5 milhões de contas. Ano passado, o volume de dinheiro poupado e guardado na Caixa superou R$ 365 bilhões.

A poupança, aliás, é uma das características primordiais da Caixa. Desde 1861, o banco é procurado pelas camadas mais carentes da população pela segurança que dá aos depositantes. A caderneta de poupança número 43 da Caixa Econômica de São Paulo, aberta em 1875, pertencia a Judas, escravo de Manuel de Andrade.

Novos dados da pesquisa “Raio X do Investidor Brasileiro” — realizada desde 2017 pela Anbima em parceria com o Datafolha — mostram que a poupança lidera entre investidores das classes D e E, perfil predominante de clientes da Caixa.

Segundo informações do levantamento, divulgadas no último dia 6, “a agência bancária ainda é o principal ponto de conexão dos investidores das faixas de menor renda”. E mais: “Do total dos investidores das classes D/E, 26% utilizam o contato presencial com o gerente ou assessor”. Esse é o diferencial do banco federal 100% público: o contato olho no olho do cliente com o bancário, a presença [física] da Caixa na vida dos brasileiros — algo que nenhum serviço ou ferramenta eletrônica pode substituir ou “aposentar”.

A Caixa Econômica Federal ainda é responsável pelo pagamento do PIS. Na pandemia, por exemplo, o banco antecipou R$ 4,6 bilhões para fazer este abono chegar a mais de 6 milhões de pessoas. Também concedeu aproximadamente R$ 77 bilhões em crédito a micro e pequenas empresas.

Em 2020, pelo (extinto) Minha Casa Minha Vida, a Caixa investiu R$ 24,2 bilhões na construção de 181,1 mil unidades habitacionais. Os números são ainda mais expressivos em anos como 2013, quando os investimentos foram da ordem de R$ 54 bilhões para a entrega de 693 mil moradias.

A Caixa também administra as loterias federais que, só em 2021, arrecadaram R$ 18,493 bilhões — recursos direcionadas a ações em áreas sociais, como educação, saúde e segurança pública, entre outras.

Ano a ano, o banco vem registrando resultados financeiros positivos  – o lucro líquido gerencial da Caixa, no primeiro trimestre de 2022, foi R$ 3 bilhões –, mantendo seu foco no social.

Ao longo de todos esses 161 anos, a Caixa Econômica Federal vem vencendo desafios — a exemplo das constantes ameaças de ser privatizada — e escrevendo seu próprio destino.

Que venham outros PIXs e tudo o que puder contribuir para o desenvolvimento da nação. Este é o propósito da Caixa: é a serviço do desenvolvimento do país e para a melhoria da vida de cada brasileiro que a Caixa Econômica Federal permanecerá.

 

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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