Chico Whitaker

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É arquiteto e ativista social, foi vereador em São Paulo pelo PT, secretário executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz, cofundador do Fórum Social Mundial, membro da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares, Premio Nobel Alternativo de 2006.

Opinião

O pior se aproxima celeremente e os “sem poder” precisam agir rápido

A onda de violência primitiva que está se espraiando no território nacional já provoca o grito ‘não queremos morrer’

Wilson Witzel e Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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*Com Caio Magri

Impressiona a rapidez com que atua, com seu propósito destruidor, o exército de malfeitores, psicopatas e oportunistas que invadiu nosso país.

O pior se aproxima celeremente. Estamos passando muito depressa no Brasil a um estágio de luta política em que alternâncias pacíficas no poder político não podem ser pacientemente construídas, nem há muito tempo para tentar entender o que aconteceu e propor saídas racionalmente estruturadas como opção contra a destruição. Vidas não podem ser recuperadas e recursos nacionais serão perdidos para sempre num regime econômico em que o direito mais sagrado é o da propriedade.

Não podemos deixar para constatar “depois” que nossos indígenas foram todos dizimados, completando o que se começou a fazer nos tempos do “descobrimento”; que a Amazônia, pulmão do mundo, bem comum da humanidade cujo cuidado, que nos cabia, não assumimos, foi esburacada pela mineração gananciosa ou se transformou em pasto pobre para carne de exportação ou mesmo em desertos arenosos; que o ódio, e a violência com que se exprime, tenha penetrado profundamente nas relações sociais; que tenha sido assassinada uma quantidade inominável de negros e negras jovens, de mulheres e de LGBTs, além de lideranças sociais lentamente construídas; que as periferias de nossas cidades, inchadas por um êxodo rural sem retorno, tenham se transformado em áreas totalmente desequipadas, sem presente nem futuro, sujeitas à balas perdidas, a uma repressão policial sem freios, a atiradores de elite para quem todos em princípio são suspeitos, à exploração insaciável e à ação intimidadora dos gângsters das milícias ou das “facções” do crime organizado; que passem a ser aceitáveis socialmente as manipulações eleitorais que minam a democracia por dentro.

Agir contra tudo isso, que pode levar ao desaparecimento do nosso país como nação do mundo civilizado, passou a ter urgência absoluta. Uma onda emigratória que o inviabilizará como país já está surgindo como alternativa para um número crescente de jovens já formados por nossas universidades. A onda de violência primitiva que está se espraiando no território nacional já provoca o grito “não queremos morrer”. O uso mal-intencionado de nossas próprias instituições não será estancado somente pela ação daquelas que estão conseguindo superar a paralisia a que foram levadas, nem somente pela tomada das ruas para protestar.

A mudança efetiva dos becos sem saída em que estamos sendo encurralados, pelo exército alucinado que invadiu o Brasil, exige que os que não dispõem de poderes institucionais superem seu sentimento de impotência e passem a uma ação articulada, como cidadãs e cidadãos, com todas as formas de atuar que estejam ao seu alcance, mais além da ação que se esperaria dos partidos que se posicionam contra a desigualdade social. Uma ação real dos “sem poder” tem que começar já!

A objeção de consciência é uma forma poderosa – e pacífica – de ação política que está ao alcance dos “sem poder”. A proposta de começarmos a utilizá-la para parar a máquina do governo, de que o exército invasor se apoderou, é somente uma dessas possibilidades de ação concreta. Que outras surjam e comecem imediatamente a serem postas em prática.

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