

Opinião
O papel histórico de Randolfe Rodrigues contra o fascismo
Randolfe não arredou o pé da frente democrática criada para enfrentar as ameaças à nação. Se tornou amigo, companheiro, de Lula e seus aliados nas trincheiras
Em 30 de outubro de 2022, Lula ergueu a mão de um aliado e gritou a milhares de pessoas que comemoravam sua vitória na Avenida Paulista: “Foi um guerreiro não apenas na CPI. Ele foi muito grande!”. O já eleito presidente se referia ao senador Randolfe Rodrigues, fundamental no resultado das Eleições e enfrentamento ao fascismo nos últimos 4 anos.
Como bem disse Lula, a atuação de Randolfe não se limitou à CPI da Covid, uma das mais importantes comissões parlamentares desde a redemocratização. A luta contra o autoritarismo foi travada em várias frentes e declarada em 1° de janeiro de 2019, quando o senador se posicionou claramente como oposição ao projeto de destruição nacional.
Uma guerra pela democracia foi travada nos tribunais, no Congresso e nas ruas. A cada ação antidemocrática, uma resposta rápida repercutia na imprensa, na qual o parlamentar estava sempre envolvido. Quando não havia pronto retorno da Justiça, as ações de Bolsonaro eram expostas ao povo por Randolfe e as pautas do governo enfraqueciam.
A denúncia dos desmonte em órgãos de fiscalização ambiental contribuiu para a repercussão mundial da devastação recorde na Amazônia. Randolfe não discursou para seus pares, falou ao mundo.
Sempre levava consigo a máxima do filósofo Karl Popper, que ensinou a jamais tolerar a intolerância. Enquanto o presidente criava cortinas de fumaça que quase sempre beiravam o ridículo (como quando usou um humorista para oferecer banana a jornalistas tentando esconder uma queda brusca no PIB), Randolfe revelava e denunciava a todos o que milícias digitais tentavam esconder. Enquanto se articulava para mudar, as leis ambientais e interferir na Petrobras e no MEC, Randolfe tornava os assuntos públicos e recorria aos meios legais para impedir que a “boiada” passasse.
Quando o aparato estatal começou a ser utilizado contra opositores, Randolfe não recuou. Entre tantas ações, mostrou os descumprimentos de preceitos fundamentais desde a demissão do cientista Ricardo Galvão à negação de acesso a informações nos ministérios.
O senador foi um autor empenhado em reescrever a página mais triste da história brasileira. Em meio ao descaso com os que padeciam por falta de vacina e cilindros de oxigênio, o parlamentar conquistou heroicamente as assinaturas necessárias que levaram à instalação da CPI da Covid. Escancarou a corrupção na Saúde e, principalmente, evitou ainda mais mortes.
O vírus do golpismo também foi combatido. Randolfe ajudou a identificar organizações criminosas que financiaram e compartilharam estratégias que visavam repetir 1964. “Não passarão!” Sempre ressaltou ele. Não passaram!
Teve atuação de oposição, mas pela união e o fim das divergências. Foi ao isolado Vale do Javari (AM), após a morte do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo, buscar respostas e soluções às ameaças aos povos originários da floresta.
Houve um preço! Poucos congressistas foram tão atacados por fake news. Ataques virtuais que descambaram em tentativas reais de agressão. Perdeu parte do apoio político no Amapá, estado onde foi eleito, por conta de sua posição firme contra os ideais fascistas.
Ao ser chamado para coordenar a campanha de Lula, um novo campo de batalha surgiu. Chegou a vez do palanque, do palco, do microfone em mãos e do discurso recheado de esperança e força.
Na reta final da campanha, foi autor de uma ação no STF que garantiu a oferta de transporte público gratuito aos eleitores e possibilitou aos mais pobres o direito constitucional ao voto.
Randolfe não arredou o pé da frente democrática criada para enfrentar as ameaças à nação. Se tornou amigo, companheiro, de Lula e seus aliados nas trincheiras – alianças que importam mais do que a própria guerra, como diria Ernest Hemingway.
Por isso, Lula foi cirúrgico em seu comentário. Me permito adicionar que não somente Randolfe foi um gigante nos anos que se passaram, mas será também nos nos esperam pela frente.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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