Marcos Coimbra

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Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense.

Opinião

O novo mapa do Brasil

No Senado e na Câmara, a tendência é de diminuição da fauna bolsonarista e dos políticos sem expressão eleitos em 2018. Nos governos estaduais, Lula tende a ter apoio majoritário

Foto: Ricardo Stuckert
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Ao longo do mês de outubro, um novo mapa político será definido. Bem diferente daquele que saiu da eleição de 2018. A principal mudança é o fim da breve e traumática experiência com o autoritarismo cafajeste e inepto de Jair Bolsonaro e seus milicos amestrados. Com Lula na Presidência da República, o Brasil, como um todo, volta a ser um país normal. O que, obviamente, não quer dizer que os nossos problemas estarão resolvidos, pois a normalidade não basta para atender às necessidades da maioria. O importante é que haverá como enfrentá-los, em vez de assistir ao seu agravamento, como aconteceu nos últimos tempos.

Neste ano, prever como ficará o Senado é mais fácil do que foi na eleição passada. Com apenas uma vaga em disputa por estado, no lugar de duas, as pesquisas funcionam melhor. Em 2018, especialmente onde havia uma candidatura muito sólida, a segunda veio a reboque e levou eleitores (e pesquisas) ao erro. O resultado foi um Senado repleto de políticos medíocres e sem expressão.

Esse problema não será corrigido agora, com a renovação de somente um terço das cadeiras, mas vai diminuir. Pelas pesquisas, as projeções são de que haverá diversos senadores eleitos com votação consagradora, o que aumenta a densidade e a representatividade da Casa: vão chegar ou permanecer muitos ex-governadores e senadores experientes. O Senado apequenado do quadriênio que se encerra tende a melhorar e tudo indica que Lula contará com o apoio da maioria.

Para a Câmara, as previsões não são boas. Na bandalha promovida pelos bolsonaristas, pode escorrer ralo abaixo o desejo de uma ampla parcela do eleitorado, que, desde o ano passado, revelava, nas pesquisas, sua intenção de votar em candidatos alinhados com Lula. Chegava a quase 40% a proporção daqueles que pretendiam votar no petista e, ao mesmo tempo, em deputados que o ajudariam, mostrando que haviam aprendido que um presidente precisa ter base parlamentar confiável.

Hoje, é difícil dizer. Depois que o capitão entregou o orçamento ao Centrão, o dinheiro público, em escala nunca vista, passou a jorrar em seus redutos. Gastos sem limite, fora de qualquer planejamento e livres de controles e transparência, têm sido usados por esses personagens para se reeleger ou mandar seus representantes para Brasília. Na mistura de pão (que falta a cada vez mais gente) e circo (com as festas de artistas bolsonaristas), vamos fazer a eleição parlamentar mais distorcida de todos os tempos.

Claro que uma parte grande do eleitorado votará com liberdade e submetida a menos manipulações, seja por suas características socioeconômicas, ou ideológicas. De qualquer maneira, tudo indica que deve diminuir a fauna bolsonarista que chegou ao Congresso na eleição passada.

Quando se consideram os 26 estados e o Distrito Federal, as pesquisas mostram um cenário semelhante nas eleições para os governos. Não dispomos de bons levantamentos em todas, mas os existentes permitem dizer que, também entre os novos governadores, Lula terá apoio majoritário.

Estas são eleições que, em muitos casos, começaram tarde ou ainda nem sequer se iniciaram na opinião pública, deixando muita gente indecisa ou sem convicção nas preferências atuais. De forma geral, estamos com níveis muito altos de não resposta nas perguntas espontâneas,­ quando não se mencionam nomes de candidatos. Chama atenção, em muitos estados, o tamanho do contingente de eleitores que pretende votar em quem tiver o apoio de Lula. Em mais da metade dos 26 estados, esse é o candidato ou candidata que tende a vencer, apesar de ainda pouco conhecido ou conhecida. Vice-versa, o contrário: salvo onde há um nome forte, não há sequer um candidato bolsonarista aos governos estaduais que exponha sua afinidade com o capitão para crescer. Todos têm consciência de que ser visto como próximo de Bolsonaro pode enterrar uma postulação viável.

O Brasil que sairá das urnas em 2 de outubro será outro. O Senado terá uma proporção maior de gente melhor, a Câmara, tomara, menos despropósitos e mais deputados sérios, muitos governadores estarão eleitos, a maioria próximos de Lula, o mesmo valendo para as decisões que ficarem para o segundo turno. Mais importante: no dia 2, Lula será o presidente da República. A menos, é claro, que os tanques venham para a rua. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1219 DE CARTACAPITAL, EM 3 DE AGOSTO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “O novo mapa do Brasil”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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