A eleição de Lula altera o panorama político da América Latina e as perspectivas para o futuro imediato. “O clima do País mudou”, afirmou o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin. A frase, que guarda forte dose de subjetividade, parece estender-se além-fronteiras. “As pessoas ao redor do mundo estão esperando que você não apenas salve a Amazônia, mas também salve o planeta”, escreveu na New Yorker o jornalista estadunidense Jon Lee Anderson, ao relatar uma conversa com o ex-presidente, logo após sua vitória. Anderson, autor, entre outros, do alentado Che, Uma Biografia, não parece exagerar. Em um cenário carente de lideranças globais de envergadura, à exceção talvez de Xi Jinping, Vladimir Putin e do papa Francisco, Lula destaca-se. É o único entre os quatro que foi eleito de forma livre e direta pela população.
Diferentemente do panorama de duas décadas atrás, quando Lula chegou ao Planalto pela primeira vez, o unilateralismo de Washington não reina absoluto diante de uma Rússia devastada pelos anos Yeltsin e uma China que começava a se colocar como ator internacional de envergadura. A guerra ao terror desviara o foco do Departamento de Estado para ações no Oriente Médio, Iraque e Líbia em especial, e Afeganistão. A América Latina, secundarizada pela diplomacia imperial, encontrou aí a oportunidade de criar laços de confiança entre países que elegiam governos marcados por um vago discurso antiliberal e colocavam agendas sociais no centro de suas ações, formando o que, imprecisamente, se denominou onda rosa. O reiterado êxito eleitoral das administrações do PT, dos Kirchner, de Hugo Chávez, de Evo Morales, de Rafael Correa e da Frente Ampla uruguaia deu-se a partir de políticas públicas tornadas possíveis pela alta dos preços das commodities entre 2004 e 2014, o que favoreceu o balanço de pagamentos de cada um, até a emergência da crise de 2008.
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