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O inverno está aqui

O maior fenômeno midiático da década nos coloca a questão de como pensar saídas em tempos trágicos.

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Por Fhoutine Marie*

No último domingo a série Game of Thrones, da HBO,  estreou sua última temporada para delírio de fãs que, desde 2011, acompanham a disputa pelo Trono de Ferro numa trama permeada por romances, seres fantásticos e mortes violentas. A série estreia após um hiato de dois anos, consagrada em sua popularidade como programa de televisão mais pirateado no mundo e como também tema de cursos em instituições respeitáveis como Harvard e Berkeley.

Cultura de massa é coisa séria. Por meio dela podemos observar o espírito de uma época.

No caso de GoT, chama atenção em particular como a disputa pelo Estado é permeada por outras questões políticas não necessariamente relacionadas à legitimidade do soberano, como o costume x moralidade e a participação de mulheres e outros grupos minoritários (em termos de representação) nos assuntos de governo.

Um dos méritos da série é desnudar a natureza do poder, evitando localizá-lo em pessoas ou instituições. O poder, diz Lorde Varys, um dos astutos personagens da série no que se refere ao jogo dos trono – reside onde as pessoas acreditam que ele está.  Embora em alguns momentos a força das armas seja determinante para definir quem ocupa o trono, fica evidente que não se consegue governar sem alianças e sem o mínimo de anuência dos governados.

Para obter esse consentimento, sobre o qual se assentam as bases do Leviatã, é preciso dialogar com a diferença.

É o que faz Jon Snow quando firma acordos diplomáticos com o Povo Livre (aquele que é chamado de Selvagem por não se ajoelhar diante de reis), Daenerys Targeryen ao obter apoio das regiões que conquistou abolindo a escravidão e a prática sistemática de estupros por parte de seus exércitos e é o que faz Cersei Lannister, que nem tenta obter apoio popular pois já possui o dos banqueiros.

Enquanto Cersei inicia seu reinado (e a oitava temporada) bastante isolada politicamente e exercendo um poder que flerta com a necropolítica, Jon e Daenerys firmam uma aliança que contrapõe diametralmente: diante de um inimigo que aparentemente ninguém sozinho poderia deter e que só traz morte, fome e destruição eles elegem, por meio de diálogos com os mais vulneráveis, formas de solidariedade, que mesmo ainda carregadas do autoritarismo inerente ao Estado, fazem uma opção de combater a morte com políticas da vida.

Não sabemos o que os roteiristas e produtores da série reservam para a última temporada, mas a grande mensagem, ao meu ver, já está lançada: a única salvação possível virá da associação popular, da inclusão e ampliação das mulheres nas instâncias de decisão. Mas até isso acontecer, é preciso preparar formas coletivas de resistência e sobrevivência. Porque o inverno já está aqui.    

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