Opinião

O gol de Pelé na Copa de 58 e uma importante lição de Matemática

Professor mostra como melhorar o ensino da disciplina e conquistar a atenção dos alunos para a matéria de forma lúdica

O professor Marcos Valério Paes (Reprodução)
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Na avaliação do terceiro melhor docente de Matemática do Brasil, os professores da rede pública, e também privada, não têm sido capacitados para desempenharem a arte de ensinar. Com os dados do último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) em mãos, de 2016, Marcos Valério Paes, de 58 anos, afirma com propriedade que, na infância, a ausência de aulas lúdicas no ensino da Matemática e a demonstração de como as fórmulas estão presentes nas atividades rotineiras do cotidiano, responde ao baixo desempenho dos estudantes brasileiros.

As notas dos alunos brasileiros no PISA – que faz parte do Programme for International Student Assessment, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – vêm apresentando sucessivos rebaixamentos. Em 2015, a nota de Ciências foi 401 e, na edição anterior, em 2012, 405. Leitura caiu de 410 para 407 na última edição do PISA, e em Matemática, o Brasil, que pontuou 391 em 2012, teve como resultado em 2016, 377 pontos. O país que ocupou as primeiras posições foi Cingapura (Ciências 556, Leitura 535 e Matemática 564).

Paes é professor de um colégio particular de elite localizado na cidade de Valinhos, interior de São Paulo. Há alguns anos, participou de um desafio nacional: apresentar em vídeo de dois minutos, uma aula de Matemática, quando tornou-se um dos três melhores professores da matéria do País. No vídeo (assista abaixo) elabora uma equação de segundo grau na qual, envolvendo a Copa de 1958, calcula a trajetória da bola, a velocidade, o tempo, a distância e a força empregada para que Pelé conseguisse marcar um gol contra a Suécia.

Sua história pessoal com a Matemática, segundo ele, é um exemplo de como os professores devem conduzir a disciplina em aula, de forma a seduzir os alunos. Foi estudante de uma escola pública de Marília, interior de São Paulo, e sua professora sempre apresentava os conteúdos de forma lúdica e prática.

Quando aprendeu a calcular a área de um local, a professora utilizou jornais e o terreno da escola. Paes se lembra que, com as mãos sujas de terra, entendeu o que é perímetro, geometria, cálculo de área e, por fim, o significado da matemática.

“Era uma professora que entusiasmava os alunos com os poucos recursos disponíveis”. Aprendeu fração na cozinha simples da mesma escola, quando a professora fez uma receita de bolo. “Há alunos na escola pública com muito potencial, mas não se desenvolvem porque o professor não tem formação adequada para ensinar.”

Paes é um crítico dos cursos de licenciatura e afirma: não estão preparando os professores para ensinar. “Despejam filosofias psicológicas e pedagógicas, mas não preparam professores que estarão capacitados para entrar em sala de aula e saber lidar com os alunos e suas dificuldades”.

Além da precária formação, Paes cita a falta de entusiasmo, a desvalorização do magistério, preocupação com o cumprimento do conteúdo e o medo hereditário com relação à Matemática. Ele explica que os pais transferem aos filhos suas frustrações com a matéria. “A criança cresce ouvindo que a matemática é difícil e isso atrapalha muito a aprendizagem no nosso País”.

Paes também explica que o correto seria o atendimento individual para cada dificuldade, o que não é possível em razão das salas cada vez mais superlotadas de alunos. “Não há tempo de analisar de forma individual os erros cometidos, pois cada aluno erra uma parte do exercício de Matemática, mas a explicação acontece de forma coletiva, o que não é válida a todos”.

Professor de Matemática há mais de 30 anos – graduou-se em 1984, com especialização e licenciatura em Matemática e mestrado em Matemática Pura pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) -, Paes pede atenção a outro fator preponderante para a aprendizagem, mas que os docentes não estão habilitados a lidar: os problemas psicológicos e familiares dos alunos. Fome, cansaço, emprego precoce e lar desestruturado interferem no potencial de crianças e adolescentes, já que o aprendizado tem conexão com a parte emocional e psicológica.

“A maioria dos professores do ensino fundamental I é formada em Pedagogia, não é especialista na Pedagogia da Matemática.” Paes prossegue: “São professores de Matemática sem aptidão para Matemática, são polivalentes, sem preparo específico”. O professor, explica Paes, tem de ensinar a construção dos conceitos de Matemática, quando ele mesmo não domina essa construção. “Há matérias que você consegue arrumar lá na frente, mas não a Matemática.”

Entre os países latino-americanos, o Brasil ficou atrás da Argentina, Uruguai e Chile, e na 66ª posição em Matemática entre os 70 países que competem no PISA (dados de 2016). “Um país que se pretende desenvolvido precisa investir na sua base humana. Não há como nossos estudantes valorizarem a educação se ela está em último plano.”

Segundo Paes, é preciso olhar para a carreira docente, uma vez que químicos, estatísticos, economistas, estão dentro das salas de aula sem terem formação específica para ensinar Matemática ou até mesmo para serem professores.

Entre tantas estratégias utilizadas por Paes, ele explica que é importante relacionar a Matemática a outras áreas do conhecimento quando o aluno perguntar “onde e quando vou usar a Matemática?”, para que a matéria seja entendida de forma positiva pelo aluno.

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