Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

O futuro daquele ovo

No botequim, todos ficaram logo imaginando a fecundação e o nascimento do fofo dinossaurinho

Foto: (Universidade de Birmingham / Lida Xing/AFP)
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Uma das últimas notícias do ano que terminou foi um achado. Numa velocidade estonteante, graças à tecnologia, ela saiu da China e se espalhou pelo mundo inteiro. O achado foi um ovo de dinossauro fecundado, com o bebê dinossauro praticamente pronto para quebrar a casca e se surpreender com o mundo em que vivemos hoje.

Como nestes tempos modernos uma noticia se espalha rapidamente e vai passando de boca em boca, em todas as línguas, a pressa fez com que surgisse talvez a última fake news de 2021: quem sabe, se déssemos uma esquentadinha, o dinossaurinho não sairia do ovo, todo serelepe?

A notícia saiu na revista iScience e dava conta de que o feto pertence ao grupo dos Terópodes oviraptorídeos, parentes distantes das nossas aves que aqui gorjeiam até hoje. O fato de encontrar ovos fecundados não é tão estranho assim, mas o que chamou atenção dos cientistas chineses foi o fato de ele estar praticamente todo formado. Aí, sim, é caso raríssimo.

O que intrigou também os cientistas foi imaginar por que cargas d’água – ou de fogo – a mamãe dinossauro abandonou aquele ovo, digamos assim, no nono mês de gravidez.

A descoberta vai ajudar e muito no estudo dos dinossauros, principalmente daqueles que colocavam ovos. Os cientistas ficaram eufóricos.

Por aqui, no botequim, a conversa foi outra. Todos ficaram logo imaginando a fecundação e o nascimento do fofo dinossaurinho.

Uns palpitaram que ele seria disputado a tapas pela produção da TV Globo. Onde ele vai aparecer primeiro e ao vivo? No Jornal Nacional, no Conversa com Bial, na Ana Maria Braga, no É de Casa, no Domingão com Huck ou no Sabadão com Mion?

Ou quem sabe no Fantástico, fazendo jus ao nome Show da Vida?

Uns disseram que ele é a cara do Profissão Repórter, outros comentaram que talvez fosse do Globo Repórter. Mas aí alguém afirmou que o certo seria ir no Altas Horas, porque o apresentador, outrora jovem, está virando um dinossauro dentro da emissora.

Mas a ideia mais forte foi a de fazer um documentário para o Globoplay e lançar a toque de caixa, como fizeram com o Gil do Vigor e o Gilberto Braga. Chamaria O Mistério de Baby Yingllang, já que o danado foi batizado pelos cientistas chineses de Yingllang.

Outras disputas vieram. A Veja queria capa, junto com o Lula, para fazer um paralelo de idades e dizer que ele não pode vencer as eleições de outubro por ser velho demais. A IstoÉ só se pagassem. A Jovem Pan logo mostrou interesse, querendo transformar o Yinllang num cara de extrema direita, defensor do Bolsonaro, compadre do Augusto Nunes.

O redator da Folha, aquele trocadilhista, logo foi imaginando um título, tipo: Chocante!

E o Zé Simão já foi logo publicando na sua coluna: Sabe qual foi a primeira palavra que o bebê dinossauro disse ao sair do ovo e dar de cara com um chinês?

– Não é a mamãe!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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