Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

assine e leia

O futuro da Seleção

A CBF investe no italiano Carlo Ancelotti para comandar a Seleção. A mim parece difícil que o valorizado treinador aceite o convite

O futuro da Seleção
O futuro da Seleção
Ancelotti: Por quê? - Imagem: José Brenton/NurPhoto/AFP
Apoie Siga-nos no

Se o ano não começou depois do Carnaval, foi, pelo menos, acelerado. No futebol, veio a primeira convocação da Seleção Brasileira após a Copa do Catar, os estaduais vão se ajeitando para entrar nas fases finais e o Brasileiro prepara-se para começar. Joga-se ainda a Copa do Brasil – importante para a motivação ao redor de todo o País – e a disputada Copa do Nordeste.

Notamos, pelo andar das coisas, que o calendário brasileiro se aproxima cada vez mais do europeu. Virão, na sequência, a Libertadores por aqui e a Champions League por lá. É jogo que não acaba mais. Em meio a tudo isso, a convocação da Seleção serviu para confirmar a necessidade urgente de reformulação do nosso futebol.

Foi boa a marcação do amistoso com o Marrocos, que acontecerá no dia 25 no estádio IBN Batouta, em Tânger. O jogo deve ser bom, até porque, mesmo que haja uma surpresa, não terá maiores consequências. Importantes serão as ideias postas em prática. Foram boas também as iniciativas de se promover a “nova geração”, que vem abrindo passagem.

Esse movimento foi valorizado pela conquista recente do Sub-20, que ganhou seu 12º título do Campeonato Sul-Americano. Vitória merecida, que reflete o trabalho sério do mineiro Ramon Menezes – convocado para comandar a Seleção Brasileira contra o Marrocos.

Pelo que se comenta, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) investe no italiano Carlo Ancelotti. O técnico demonstrou sua grande capacidade na conquista dos últimos títulos do Real Madrid – ainda que o time não ande muito bem no campeonato espanhol e nas copas adjacentes.

A mim, parece difícil que o valorizado treinador aceite o convite. Além disso, também é difícil que, por aqui, o aceitem neste momento em que se tenta prestigiar os jogadores que atuam no Brasil e que estariam, ao menos por ora, menos sujeitos ao decepcionante estrelismo do grupo convocado para a Copa-22.

A favor do Ancelotti pesa a proximidade dele com Vinícius Jr. e com outros brasileiros convocáveis. O “brasileirinho” Vini é a sensação do momento no mundo e, em condições normais de temperatura e pressão, pode explodir no Mundial de 2026.

Outra opção sempre lembrada é o excelente Pepe Guardiola, agora também já bastante rodado como técnico de elencos premiados. Guardiola, em princípio, seria mais próximo do estilo de jogo brasileiro e, em outros tempos, manifestou interesse em dirigir a Seleção. Mas, depois disso, muita coisa aconteceu em sua carreira. Ou seja, é uma incógnita.

E por falar na Seleção da Copa-22, Neymar está sem condições físicas: vai sofrer nova cirurgia. Acaba assim para ele a temporada europeia e a disputa da Champions pelo Paris Saint-Germain.

Antes de viajar para o Catar, onde será operado, ele declarou: “Vou voltar mais forte”. Neymar pode aproveitar o retiro e pensar na possibilidade de se dedicar intensamente a fazer com que a próxima Copa seja sua volta por cima – como ocorreu com Messi, seu companheiro de PSG, e já acontecera com Pelé, em 1970. Torçamos.

No dia a dia do nosso futebol, a semana foi marcada por alguns destaques, como a auspiciosa salvação da Portuguesa paulista de novo rebaixamento. É hora de o time firmar o pé como um dos grandes do futebol brasileiro – reafirmando a riqueza de sua história.

A nota de horror ficou por conta da briga entre torcedores do Flamengo e do Vasco no entorno do Maracanã, no domingo 5. O lamentável episódio de selvageria só serviu para esmaecer o gol espetacular do uruguaio Pumita. Esse episódio, assim como outros de violência, merecem uma análise mais profunda.

Já se sabe que medidas como torcida única, proibição de mulheres e crianças nos estádios e afastamento temporário de torcidas organizadas não têm resolvido o problema. Por outro lado, afastar o torcedor menos favorecido por meio do aumento do preço dos ingressos ou da repressão policial só elitiza o esporte.

Ainda no que diz respeito a assuntos de difícil solução, lembro que cresce o número de clubes requerendo recuperação judicial. Prosseguem, além disso, as discussões entre a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e a Liga Forte Futebol do

­Brasil (LFF), para que se chegue a um acordo sobre o controle da organização das ­disputas a serem negociadas, por altos valores, com investidores. •

Publicado na edição n° 1250 de CartaCapital, em 15 de março de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O futuro da Seleção’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

10s