

Opinião
O futebol imparável
Real Madrid e Manchester City chegam a jogar 70 partidas por temporada. Trata-se, sem dúvida, de uma condição desumana


Chegamos à fase decisiva do calendário do futebol brasileiro. A Copa do Brasil tem seus finalistas, Flamengo e Atlético Mineiro, e as demais disputas apresentam os caminhos estreitados tanto para quem sobe quanto para quem desce e se aproximam do desfecho para os que disputam os títulos de campeões.
O Flamengo conseguiu ir às finais mesmo tendo, por um longo tempo, um jogador a menos que o Corinthians em campo. Como a partida foi em São Paulo, isso causou uma “bronca” bem maior entre os torcedores do time paulista.
Da mesma forma, jogando no Rio de Janeiro, no campo do Vasco da Gama, o Galo mineiro soube fazer valer a presença do gigante Hulk, com um golaço no fim do jogo, garantindo assim a classificação para as finais. Agora é com eles.
Mundo afora, a novidade é o retorno de Neymar, que jogou num clássico árabe. Na segunda-feira 21, o atacante entrou em campo aos 31 minutos do segundo tempo da partida entre Al-Hilal e Al-Ain, pela terceira rodada da Champions League asiática.
Esta foi a primeira vez que o craque brasileiro pisou no gramado desde que rompeu o ligamento do joelho esquerdo no confronto entre Brasil e Uruguai, em setembro de 2023.
Naturalmente, a partir disso, começaram as especulações sobre sua convocação para a Seleção Brasileira.
Me parece que, estando ele em boa forma, será presença indiscutível.
Mas esta é uma situação que, certamente, o técnico Dorival Jr. saberá resolver: não será um problema, de forma alguma, se Neymar acabar de se recuperar em seu clube e voltar para a Seleção na hora certa.
E, por falar em Seleção, este ano teremos ainda uma data Fifa: serão dois jogos em novembro. A depender desses resultados, a Seleção poderá terminar o ano em boa situação nas Eliminatórias, sempre sabendo que não existe jogo ganho de véspera.
O próximo confronto do Brasil está marcado para 14 de novembro, contra a Venezuela, no Estádio Monumental de Maturín, pela 11ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo.
A Fifa, por sua vez, segue às voltas com o problema do calendário e suas diversas implicações. Este é o assunto mais importante no mundo do futebol depois das declarações – já aqui citadas – do técnico Carlo Ancelotti e do jogador Rodri propondo greve de protesto por parte dos atletas. Ambos foram seguidos por Kevin de Bruyne, atualmente no Manchester City, que afirmou: “Eles não se importam, o dinheiro fala”.
Quem também se manifestou foi David Terrier, presidente da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais da Europa (FIFPro): “As vozes dos jogadores não serão ignoradas”.
A European League, que congrega 33 países de toda a Europa – exceção feita à La Liga espanhola, que não faz parte, mas que se juntou nesse pleito –, entregou representação junto à Comissão da União Europeia por conta da “imposição de decisões no calendário internacional” e “abuso de poder”.
A Fifa, do alto de sua prepotência, além de fazer a ridícula alegação de que organiza apenas 1% do calendário do futebol no mundo, soltou a seguinte pérola arrogante: “Quem não quiser jogar, não joga”.
Os responsáveis pelos protestos em defesa dos profissionais do esporte, em suas queixas conjuntas, têm apontado algumas das consequências desses excessos: fadiga, lesões e desgaste mental.
O Real Madrid e o Manchester City são apresentados como clubes que fazem até 70 partidas por temporada. Trata-se, sem dúvida, de uma condição desumana.
A União Europeia já se manifestou reprovando as iniciativas absolutistas da Fifa, que se apressa em fazer “os arranjos” que lhe permitam seguir explorando brutalmente o esporte. •
Publicado na edição n° 1334 de CartaCapital, em 30 de outubro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O futebol imparável’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
