O mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra Vladimir Putin terá repercussões distintas daquelas invocadas tanto pelos EUA quanto pela Rússia. Para os EUA, Putin, que ainda não foi sequer acusado, é criminoso de guerra, pária internacional, devendo ser preso na próxima oportunidade. Para a Rússia, o mandado não tem qualquer valor jurídico e não terá qualquer eficácia, sendo apenas mais um ato de propaganda do Ocidente. É impossível saber qual das duas leituras prevalecerá. Debruço-me sobre as repercussões menos hipotéticas e mais reais porque observáveis a olho nu e desde já. O mandado de captura é semelhante às sanções econômicas impostas à Rússia. As suas repercussões serão reais, mas não aquelas oficialmente propostas.
A primeira repercussão reside no impacto num qualquer processo de paz sobre a Ucrânia. Suspeitava-se que os EUA não estavam interessados em negociações e acrescentava-se que o desinteresse era partilhado pela Rússia. A suspeita está hoje confirmada. Os EUA não negociarão qualquer processo de paz. Isto significa que jogam tudo na queda de Putin. Como esta não é previsível, ao menos a curto prazo, o povo ucraniano vai continuar a ser martirizado e os soldados ucranianos e russos vão continuar a morrer. Os possíveis e bem-intencionados mediadores internacionais podem, por agora, dedicar-se a outras tarefas mais realistas.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login