

Opinião
O fim da Copinha
A performance brilhante do Palmeiras na partida final contra o Santos, esta semana, livrou a Copa São Paulo de um fim desastroso


Depois de tanta movimentação pelo País inteiro, com dezenas de jogos, a Copa São Paulo, a Copinha, chegou às fases semifinal e final com muita tensão e com grande risco de acabar mal. O que livrou o campeonato do desastre foi a performance brilhante do time campeão.
Na manhã da terça-feira 25, o Palmeiras bateu o Santos por 4 a 0, no Allianz Parque, conquistando o seu primeiro título nesta competição. O Verdão sobrou em campo e reforçou o momento de êxtase que tem vivido sua torcida, com as seguidas conquistas do time.
Na semifinal, na partida entre Palmeiras
e São Paulo, a Copinha ganhou até mesmo ares de tragédia, com a invasão do campo por torcedores tresloucados portando, inclusive, um punhal. Imaginem que consequências poderia ter tido esse desatino.
As circunstâncias das finais foram um bocado esquisitas, principalmente no que diz respeito à escolha do campo onde seriam disputadas as partidas, isso sem falar no horário escolhido: 10 da manhã de um verão pegando fogo.
Em pleno Allianz e sob o calor escaldante, os garotos do Santos entraram numa fria. Ao ver o time sofrer três gols em apenas 15 minutos de jogo, confesso que fiquei tenso com a perspectiva de um resultado desastroso, sob todos os pontos de vista – ainda mais no campo do adversário, em jogo de torcida única.
Diante da situação alarmante, estava claro que haveria uma expulsão pelo lado santista, dadas as faltas cometidas. Para evitar isso, teria sido necessária uma orientação muito segura dos treinadores – algo, àquela altura, muito difícil.
Depois de um número extravagante de times e de jogos, a finalíssima da Copinha mostrou-se absolutamente desequilibrada. Apesar de a equipe santista ter chegado à final depois de vencer o Fluminense, que sempre tem um bom trabalho de base, sua diferença em relação ao Palmeiras era gritante.
Nesse quadro desfavorável, o Peixe foi vencido tanto dos pontos de vista físico e técnico quanto do ponto de vista emocional. O Porco mostrou-se melhor individual e coletivamente, e em perfeita sintonia entre suas linhas nos três setores – defesa, meio-campo e ataque.
O time revelou-se mais maduro e mais tranquilo, jogando futebol de forma, digamos, natural, sem muita complicação, algo tão comum nos dias de hoje. Seguro em sua proposta, o Palmeiras jogava e marcava em cima as iniciativas do Santos e, uma vez com a posse da bola, jogava de maneira simples e objetiva.
Obviamente, uma única partida é pouco para avaliar um time, e sabemos que o Santos é contumaz em apresentar grandes revelações a cada temporada. É, porém, inegável que a diferença foi grande.
Um detalhe que chamou atenção foi a opção dos praianos por uma dupla de zaga grandalhona e sem muita mobilidade. Foi justamente essa zaga que propiciou o primeiro gol palmeirense, logo de saída, pelo Endrick.
Garoto baixo e rápido, Endrick, com seus 15 anos, acabou sendo o maior destaque da Copinha como craque. Fez também o gol mais bonito, uma “pucheta” espetacular na meia-lua adversária. Uma pintura, como se dizia antigamente.
A leveza do time alviverde era notável, deslizando em campo, jogando de patins. E o melhor de tudo foi a declaração de Abel Ferreira, técnico principal da Nova Academia, sobre a pressão por levar o menino para o Mundial: “O garoto precisa se divertir”.
Enquanto rabiscava as anotações para este texto, me veio à lembrança o verso de Luiz Melodia: “Deixe o menino brincar”.
Ao contrário da maioria dos comentaristas que condenaram a reação dos garotos santistas à “carretilha” do Endrick, gostei muito da personalidade de Lucas Pires, o zagueirinho peixeiro que, sem bravatas, encarou o atacante palmeirense chamando atenção para o que foi um vacilo. O Santos já tem um capitão em potencial para fazer lembrar sempre o Zito eterno.
Foi também muito boa a atuação de Alex, craque brilhante, começando auspiciosamente sua carreira de treinador ao insistir no caráter educacional do esporte.
Por fim, não posso deixar de registrar aqui a partida de Elza Soares.
Devemos muito o Bicampeonato Mundial no Chile, em 1962, a esta mulher extraordinária, que deu tempos de felicidade ao querido Mané Garrincha, o maior construtor daquela conquista fundamental.
Não podemos dizer que alguém ganhe uma Copa sozinho, mas é inegável que Garrincha fez de tudo naquele Mundial. Fez coisas de que ele mesmo podia duvidar. Gol de perna esquerda e até de cabeça, o Mané?
Obrigado, Elza, por mostrar como deve ser a vida de um ser humano. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1193 DE CARTACAPITAL, EM 2 DE FEVEREIRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “O fim da Copinha”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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