Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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O Esporte na mira

O ministério é objeto da sanha dos negociadores de apoio nas casas legislativas e é preciso, por isso, que se faça a defesa intransigente de Ana Moser

Ana Moser e Lula. Foto: Ricardo Stuckert/divulgação
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As notícias do esporte e da vida vão se alternando entre más e boas e, atualmente, a balança vai, infelizmente, pendendo para o lado pior.

Começamos a semana com a notícia das agressões sofridas pela torcedora palmeirense Gabriela Anelli, de 23 anos, em um dos acessos ao Estádio Allianz Parque, em São Paulo. A jovem, atingida no pescoço por uma garrafa de vidro durante uma confusão entre torcedores de Palmeiras e Flamengo, chegou a ser hospitalizada, mas morreu.

Poucos dias antes, tínhamos sido informados da absurda agressão sofrida pelo jogador Luan, do Corinthians, por seis torcedores ligados a torcidas organizadas do clube. Claramente, se amiúdam as ocorrências policiais envolvendo jogadores.

É necessário que se dê um basta definitivo a esse descontrole nas praças esportivas. Já foram feitos jogos somente com torcida feminina, jogos sem público e nada disso resolveu os disparatados conflitos.

A realização de jogos sem torcidas seria, por sua vez, a declaração de falência da capacidade dos órgãos de segurança de cumprir essa função nos moldes atuais. Não faz o menor sentido.

A gente se lembra de como era a situação nos campos europeus, com os casos terríveis da Bélgica e as constantes ocorrências protagonizadas pelos hooligans, no Reino Unido. Hoje, não recebemos mais notícias a respeito de casos graves por lá.

Aqui, precisamos, sem falta, de uma reformulação robusta no tratamento das questões do esporte.

Menos mal que, pelo menos, os ventos da esperança voltaram a soprar. Cabe agora a todos nós a difícil missão de sustentar os cobiçados setores da política nacional.

Os ministérios, como sabemos, são objeto da sanha dos que pretendem cobrar caro pelas negociações em curso nas casas legislativas. São tempos que exigem firmeza.

Os alvos principais são as pastas mais rentáveis, e o Esporte está entre elas, ao lado de Economia, Meio Ambiente e Saúde. É, por isso, muito importante que façamos a defesa intransigente de Ana Moser.

Nos clubes, em tempos de Sociedade Anônima de Futebol (as SAFs, criadas por lei em 2021), a coisa vai pegando fogo.

Dois grupos – agora talvez três – se digladiam na entrega da organização e na venda dos rendosos direitos econômicos das disputas esportivas brasileiras a grupos internacionais.

Os comentários lembram o que, profeticamente, disse o dirigente do ­Athletico Paranaense, Mário Celso Petraglia, quando foram firmadas as compras das primeiras SAFs.

Ele afirmou que os clubes estavam sendo vendidos a “preço de banana”, na “bacia das almas”, pelo mesmo preço, muitas vezes, da negociação de um único jogador, como a que ele agora efetivou, com a ida de Vitor Roque para o Barcelona. No caso da venda dos direitos econômicos das competições, o prazo é de 50 anos.

Há muito tempo, os jogos da Seleção são propriedade de empresas particulares do exterior. Isso gera, por exemplo, problemas sérios para que se consigam amistosos na preparação do Selecionado brasileiro antes de campeonatos oficiais.

E, por falar em Seleção, a semana trouxe a entrevista de Juninho Paulista, coordenador da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na última Copa do Mundo, ao portal Globo Esporte.

Juninho deixou transparecer algumas das razões para a campanha decepcionante da Seleção Brasileira.

Uma delas foi, justamente, o fato de não haver jogos de preparação com seleções europeias, algo bastante discutido à época pela mídia.

Outra observação interessante foi quanto à não apresentação de alguns jogadores vinculados a clubes europeus, que os pressionaram a não comparecer em determinadas convocações.

Juninho citou casos semelhantes ocorridos com jogadores argentinos, que se apresentaram à revelia de seus clubes, que os ameaçavam com a quebra de contratos.

Ao ouvir tudo isso, ficamos pensando na situação dos jogadores profissionais que, em um momento como esse, ficam à deriva, sem uma representação coletiva de seus interesses comuns.

Cada jogador, hoje, tornou-se praticamente uma empresa. Eles têm procurador, comissão técnica, relações públicas etc., mas o que vivem, na prática, é uma situação de independência ilusória, a começar pelo calendário impossível de ser cumprido.

Esse “salve-se quem puder” é apenas uma das possíveis razões para tantos desequilíbrios vistos em campo na Copa do Catar. •

Publicado na edição n° 1268 de CartaCapital, em 19 de julho de 2023.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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