O ensino médio que faz dormir

Depois de anos criticando o excesso de conteúdos escolares, Novo Ensino Médio entrega telecurso e salas sem professores nas redes estaduais

(Ilustração: iStock)

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Criado por estudantes de uma escola estadual da cidade de São Paulo, um divertido perfil no Instagram dedica-se a mostrar imagens de estudantes do ensino médio dormindo durante as aulas. Deitados sobre as carteiras, no chão, em cadeiras enfileiradas e até numa cadeira de praia, dezenas de adolescentes dormem o sono dos justos nas salas de aula. Nem todos dormem, é verdade. Alguns fotografam, marcam os perfis dos dorminhocos no Instagram e escrevem comentários deliciosamente sarcásticos para celebrar as maravilhas da escola pública sem conteúdos. Para matar o tempo das muitas aulas na semana sem professores, os mais desinibidos compartilham dancinhas pelo TikTok.

A genial pianista Martha Argerich conta, em uma rara entrevista, que aprendeu a tocar o magnífico Concerto n. 3 para Piano e Orquestra de Prokofiev enquanto dormia. Ela, que durante a adolescência já apreciava a vida noturna, ouvia a sua colega de quarto ensaiando ao piano durante o sono de manhã. Entre risos, Argerich diz que até cometia os mesmos erros de execução da colega. Para além da anedota pianística, um grupo de cientistas mostrou em 2019 que é realmente possível aprender novas palavras durante o sono. A julgar pela quantidade de dorminhocos nas escolas estaduais de São Paulo, depreende-se que este “itinerário do sono” faça parte do revolucionário projeto de aprendizagem do Novo Ensino Médio.

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5 comentários

KASSIANO CESAR DE SOUZA BAPTISTA 21 de março de 2022 00h02
Olá. Antes de mais nada, gostaria de parabenizar o professor Fernando Cássio por esse e outros texto nessa revista. Junto com outras vozes da intelectualidade brasileira em educação, Débora Goulart e Ana Corti, vem nos trazendo reflexões crítica acerca da reforma do ensino médio, com o foco do Estado de São Paulo. Isto posto e concordando com o conteúdo da crítica, compartilho da angústia de muitos colegas, professores e professoras, que estão no chão da escola da rede estadual paulista sem saber o que fazer ou sem saber como seguir em frente diante do nebuloso currículo paulista, baseado na reforma do ensino médio. Um dos efeitos individuais disso, nos professores e professoras, é o excesso de faltas médicas, justificadas ou injustificadas. A situação é calamitosa e extremamente complexa, mas fica um angustiante indagação: Como nós, professores e professoras das escolas de ensino médio brasileiro, podemos atuar dentro das escolas de forma crítica e ressiginificando o NEM, para além da postura de revolta e negação. Importante, mas que é pequena diante da tarefa de construirmos uma educação de qualidade de baixo para cima, para e com os estudantes? Desculpem-me pelo tom de desabafo do comentário. Ele reflete uma angústia pessoal e de outros profissionais da educação da rede estadual paulista. Por Kassiano César de Souza Baptista São Paulo/SP
Fábio Luís De Marcos Cattuzzo 19 de março de 2022 19h09
Esses artigos do Fernando Cássio são cirúrgicos e dizem muito da verdade educacional enfrentada atualmente. Parabéns pelos seus textos.
Fábio Luís De Marcos Cattuzzo 19 de março de 2022 19h07
Fernando Roberto Varnier Fernandes 18 de março de 2022 21h07
Praticamente idêntico ao que ocorre no Paraná: apesar de o estado possuir professores concursados para disciplinas do ensino profissional ofertadas no novo ensino médio, grande parte delas é ministrada pela tv, enquanto professores aptos para ministrar esses conteúdos e já concursados foram impedidos de assumir as aulas. Para piorar, essas aulas sai transmitidas por uma universidade particular e já disciplinas que não tem sequer transmissão ao vivo: resumem-se a leituras e atividades via Google classroom.
ALMIR MESSIAS PINA 18 de março de 2022 14h22
A farsa do EAD caça níquel que se espalhou pelo país agora no Ensino Médio. Aonde vamos parar? É só Business?

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