O engodo da pacificação

Ao propagandear a sua autoanistia, Bolsonaro fala em “pacificar” o País, mas nossa história prova: não existe paz sem Justiça

Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo

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Uma das melhores designações dadas ao golpe de 1964 figura no título do documentário de Camilo Tavares: O Dia Que Durou 21 Anos. Esse período se inicia com a deposição de um governo legítimo e progressista, liderado por João Goulart, e se encerra – pero no mucho – em 1985, com a eleição do primeiro presidente civil após duas décadas de regime militar.

No crepúsculo desse sombrio hiato de 21 anos, o Brasil caminhava para uma democracia, mas até certo ponto. Exilados voltaram ao País, recebidos com imenso carinho. Os presidentes voltaram a ser eleitos, e não escolhidos por juntas militares. Mas a mudança em curso estava longe de ser progressista. Eleito pelo voto indireto de um colégio eleitoral, Tancredo Neves morreu antes de assumir. O primeiro presidente pós-ditadura foi o vice José Sarney, tão à direita quanto os militares aos quais se alinhou.

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 11 de março de 2024 00h33
Precioso e oportuno artigo, prezada Dra. Maria Rita Kehl, os torturadores e assassinos de ontem não deveriam ser anistiados, mas punidos como foram os ditadores dos nossos países vizinhos, eis que somente o lado de lá tinha todo o aparato do Estado, apoio dos EUA, enquanto que os nossos presos políticos, os militantes de esquerda tinham apenas a ideologia e a vontade de recolocar no poder o presidente João Goulart que foi vítima de um golpe de estado, inclusive com o apoio de civis e políticos de direita. E nesses 21 anos de ditadura, esses militares reinaram e ainda acham que têm razão de todas as suas atrocidades. A presidente Dilma, de fato foi vítima de uma revanche por ter criado a Comissão da Verdade. Mas se no próprio STF, os crimes praticados na ditadura militar são imprescritíveis e seus efeitos civis são eternizados, porque não recriar a tal Comissão da Verdade aqui e fazermos um acerto de contas contra os sobreviventes da ditadura que praticaram os seus crimes. Bolsonaro, como um bom covardão que é, tenta surfar na onda da impunidade histórica que houve em relação aos seus antecessores fardados com essa conversa de “pacificação geral da nação”. Uma ova, todos os extremistas e depredadores e conspiradores das eleições de 2022 devem ser exemplarmente julgados e punidos para não se repetir nesse país toda a tragédia histórica que vivemos. Temos que quebrar os ovos dessa serpente do fascismo que se insinuou recentemente por aqui. E que Bolsonaro, militares, políticos e financiadores fiquem bem espertos porque as penas aplicadas em face dos golpistas dos atos de 8 de janeiro de 2023 é só uma amostra grátis do que vem pela frente contra eles, visto serem eles os cabeças e mandantes de toda essa abjeta e vergonhosa tentativa de Golpe de Estado, sendo que contra Bolsonaro deve pesar mais crimes a serem apurados a depender da denúncia do novo PGR.

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