

Opinião
O digital na saúde
O SUS passará a contar com um prontuário eletrônico hospitalar capaz de registrar o histórico do paciente


Uma das principais dificuldades para um atendimento mais ágil e seguro pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é o acesso ao histórico do paciente. Se ele é atendido numa determinada Unidade Básica de Saúde e depois precisa recorrer a um pronto-socorro ou hospital, ainda que estejam localizados na mesma cidade, o atendimento começa do zero.
Isso resulta em repetições desnecessárias de consultas, exames e medicamentos, entre outros procedimentos. Nem informações básicas, como vacinas tomadas, alergias e tipo sanguíneo, estão disponíveis.
Agora, essa forma de atendimento quase manual está com seus dias contados. Os hospitais públicos poderão adotar a plataforma AGHU, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estatal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) que administra 41 hospitais universitários federais no País.
Um acordo de cooperação técnica foi assinado recentemente entre a Ebserh, o Ministério da Saúde, o MEC e os conselhos de secretários municipais e estaduais de Saúde, o Conasems e o Conass.
Com a nova tecnologia, o profissional de saúde terá acesso ao histórico do paciente – aí incluídos exames, laudos e receitas –, o que possibilitará um tratamento mais eficaz. O sistema vai garantir ainda um controle de estoque confiável, agilizar a liberação de leitos e, principalmente, reduzir o gasto público.
O Brasil tem quase 6,3 mil hospitais públicos. Se 3 mil adotarem o AGHU, será possível fazer uma economia para estados e municípios da ordem de 3 bilhões de reais, além de outra redução, de 2 bilhões de reais nos próximos cinco anos, apenas em relação ao montante necessário para implementação de um sistema similar. No campo da manutenção, estimando-se uma adesão de 600 hospitais por ano, a economia seria de cerca de 1 bilhão de reais em cinco anos.
Estamos falando de maior eficiência do gasto público, em que a economia gerada pode ser reaplicada na melhora do atendimento de saúde para a população que mais precisa. Outro ponto importante é que o AGHU permite um controle detalhado do estoque dos hospitais.
O gestor pode saber a quantidade necessária de consumo, identificar carência de produtos e insumos e, assim, ir controlando medicamentos de alto custo até a beira do leito, com diversos níveis de monitoramento passíveis de ser desenvolvidos e aplicados.
É conhecida a história que associa a receita médica a uma leitura quase incompreensível. Com o AGHU, o próprio paciente terá acesso às suas, superando-se assim uma das principais dificuldades enfrentadas pelos usuários do SUS. Disponibilizadas no ambiente digital, as receitas passarão a ser legíveis. Outras informações, como a situação vacinal, também estarão disponíveis.
Nos últimos anos, a rede pública de saúde sofreu uma sequência de gestões temerosas que colocaram em risco, inclusive, programas consagrados mundialmente, como o Programa Nacional de Imunização. É preciso, por isso, resgatar o papel da saúde pública como a primeira e grande defensora da vida.
Pela primeira vez na história, o SUS contará com um prontuário eletrônico hospitalar gratuito e universal com capacidade de operar mesmo em situações de instabilidade de conexão. Recife saiu na frente e é a primeira capital a adotar o novo sistema que compete com o que existe de mais avançado na gestão de sistemas de informação em saúde, integrando o Hospital Universitário com a sua rede básica.
O AGHU é um sistema digital de alta qualidade desenvolvido por servidores públicos, com recursos públicos e para melhorar a gestão pública. Possui cerca de 3 milhões de acessos mensais e uma base de 25 milhões de pacientes, sendo utilizado diariamente por 50 mil profissionais de saúde.
A plataforma é instalada localmente em cada hospital e, dessa forma, fica menos vulnerável a ataques vindos da internet. Além disso, não é impactada quando a conexão fica lenta.
A informatização de milhares de hospitais vai melhorar não só o cuidado aos pacientes, mas também a eficiência da gestão da imensa e complexa rede de saúde pública. O AGHU é apenas um dos vários passos que já estão sendo dados na direção do fortalecimento do SUS como âncora de uma política que busca, inicialmente, elevar o padrão de atendimento de quem mais dele precisa: a população brasileira. •
Publicado na edição n° 1269 de CartaCapital, em 26 de julho de 2023.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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