Opinião

O desmatamento explode. E a moratória da soja queima com a Amazônia

Querem mais? Bolsonaro acaba de liberar o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal, revogando decreto do ex-presidente Lula

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Que um diretor do Instituto Nacional de Estudos Espaciais (INPE) havia sido demitido, em agosto deste ano, pela dupla “Amazônia em Fogo”, Jair Bolsonaro e Eduardo Salles, bem lembramos. A “dobradinha”, como conhecida nos Jockeys Club do país, considerava-o um sensacionalista. Ricardo Galvão, apresentou-se ao astronauta cientista e tecnólogo, e foi para o espaço.

Darcton Policarpo Damião, o substituto, em 18 de novembro, divulgou ter subido em 29,5% o desmatamento, entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2019, diante do mesmo período anterior.

Alarmista, sensacionalista, petista, de esquerda, ou o quê? Nada. Apenas honesto. Será ele, da mesma forma, defenestrado pela “dobradinha” e o astronauta?

Somos fortes em ações de devastação. Com tal vigor poderíamos invadir qualquer país desafeto latino-americano do Regente Insano Primeiro. Em 2018, desmatou-se 7.536 quilômetros, o que já representava um acréscimo sobre 2017. Agora, campeões, chegamos aos decepcionantes 9.762 km². Por que não uma forcinha a mais para os 10 mil?

E, também, da inclemente e incômoda Amazônia chegam notícias de moratória. Não a do País, embora o déficit da indústria brasileira tenha alcançado 31 bilhões de dólares; o saldo da balança comercial está 26% menor do que em 2018; e o fluxo cambial está negativo, em 21,5 bilhões de dólares.

Vamos bem, né? Enquanto, internamente, desemprego e aparelhos sociais têm recursos cortados, e a cultura, ora a cultura, para ela chama-se as milícias. Goebbels e Göring não fariam melhor.

Mas, como já comentei aqui, falo da Moratória da Soja na Amazônia, pacto firmado há mais de dez anos com tradings, objeto de zoneamento agrícola seguro contra o desmatamento acima relatado. É proibido comprar a oleaginosa se plantada em determinadas regiões.

A Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja) cobrou apoio da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que não hesitou. Suas palavras ao jornal Valor, em 13 de novembro: “A moratória da soja é um assunto entre os privados. Mas acho um absurdo. Nós temos como mostrar onde a nossa soja é produzida e se pode ser produzida nesse lugar. Temos o Código Florestal, uma das leis ambientais mais rigorosas do mundo”.

 

Um dos dirigentes da associação, alvíssaras, indignou-se: “A moratória fere a nossa soberania”. Hilário.

Então tá, ministra. Vê-se. Que não se desconfie da valorização de terras desses abnegados, respeitosos e soberanos produtores nacionais.

Querem mais, como também anunciado na coluna anterior? O Regente acaba de liberar o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal, revogando o Decreto 6.961 (setembro, 2009), do ex-presidente Lula.

Com isso, Jair Bolsonaro está sendo questionado pelo Ministério Público Federal no Amazonas, por crime de lesa-pátria (amada Brasil?). Segundo o cientista do Inpa, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Lucas Ferrante, trata-se de mais um tiro no pé do governo: “A medida afeta a biodiversidade e serviços ecossistêmicos de maneira irreversível, consequentemente a economia, a agricultura e o abastecimento humano em um nível sem retorno, ou seja, colapsa todos estes quesitos essenciais para o País”.

Também. Mas as usinas andam assim tão folgadas para aumentarem a concorrência entre elas?

Inté.

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