Opinião

O Che Guevara de Jon Lee Anderson ou o Brasil de Bolsonaro?

‘O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui.’ Creio que até hoje não respondemos. Haiti ou não, Havaí nunca será

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Jon Lee Anderson é um jornalista norte-americano, com 63 anos de idade e que, entre outras obras, em 1997, lançou extensa biografia de Che Guevara, com muito sucesso de vendas.

No mesmo ano, a Editora Objetiva publicou a tradução para a língua portuguesa, com ótimo material iconográfico. Corri, comprei, e percorri as quase mil páginas. Depois de 20 anos, sobram-me o orgulho da aquisição e a admiração por Ernesto e Cuba.

Sei de muitos filmes e seriados baseados na obra de Jon sobre o libertário médico argentino. Que proliferem. A ilha caribenha sobrevive como pode. Mesmo assim deixa indignada parte do mundo que a vê como ditadura socialista diante de sociedades autointituladas “democráticas”, noves fora a miséria e a desigualdade. Hoje em dia, retroalimentadas pela ganância financeira em detrimento de quem produz e dá emprego e renda.

Não estivesse eu hoje amedrontado, sabendo existir um “gabinete do ódio”, e sem recursos financeiros para bancar-me, e o mesmo não ocorresse com as publicações em que escrevo, fragilizadas, pedindo apoios de toda a espécie, pandemia vencida, me proporia passar uns dias em Cuba, analisando como organizam e estruturam sua agropecuária, rotulada monocultura (cana-de-açúcar).

E o que mais poderiam fazer em pequena extensão territorial (perto de 111 mil km²) e, desde 1962, uma população de 11,5 milhões, em 2018, vivendo situação morde e assopra de embargo comercial, que varia com o peso e os interesses político e econômico dos EUA.

Em 1982, Gilberto Gil e Caetano Veloso, lançaram a dúvida: “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”. Creio que até hoje não respondemos. Haiti ou não, Havaí nunca será.

Seu território equivale ao estado de Pernambuco. Uma ilha distante pouco mais de 500 km de Miami. Cuba tem 5% da população brasileira. São poucas as referências numéricas específicas da produção agrícola para o mercado interno. As exportações, sabemos: cana, tabaco, rum, equivale dizer também cana.

Pesquisas na internet, mesmo no site do USDA (United States Department of Agriculture), de que sou assíduo, pouco se sabe sobre como se dá tal envolvimento econômico-social, fora da pesca. Muita coisa, porém, é possível saber sobre esse comunismo:

  1. O PIB total da resiliência caribenha, em 2018, foi de US$ 100 bilhões, do Bananão (salve Ivan Lessa), US$ 1, 869 trilhão. Quase 20 vezes mais do que do Oiapoque ao Chuí;
  2. Per capita, no mesmo ano, 8,5 mil dólares na Ilha, enquanto 8,9 aqui. Meio pareio, não?
  3. Somos incríveis. Será por isso que tanto os amaldiçoamos e tememos?
  4. Na pequena Ilha, com todas as restrições burguesas e do consumismo, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Cuba estava em 0,78, 72º no ranking mundial;
  5. Na Federação Brasilis de Corporações, 0,76, 79º no ranking mundial. Pareio também, não?
  6. O índice de Gini, que mostra a desigualdade de renda entre os países, pouco nos diferencia, consideradas, as abissais diferenças geográficas e edafoclimáticas;
  7. Enfim, o Brasil é o sétimo país mais desigual em renda do planeta. Estamos em 7º lugar. Cuba nem entre os 20 maiores. Pesquisem.

Um dia, mesmo em finitude, estarei lá, e contarei o que o jornalista da The New Yorker, há mais de 20 anos, me contou.

Enquanto isso, prometo-lhes esforçar-me para colher dados que nos esclareçam melhor tanta resistência e excelência em educação e saúde.

Inté!

   

   

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