

Opinião
O caso Marcelo
A rescisão de contrato do jogador com o Fluminense alimenta notícias maldosas e irresponsáveis


Intrigante o caso Marcelo e o Fluminense. O time carioca anunciou, no sábado 2, a rescisão de contrato com o jogador. A decisão foi tomada após episódio em que o lateral se desentendeu com o técnico Mano Menezes na beira do gramado, no Maracanã. O contrato de Marcelo ia até dezembro e o jogador tinha manifestado interesse em permanecer no clube em 2025.
Em um post nas redes sociais, o jogador destacou os momentos que viveu em sua segunda passagem pelo clube, em especial a conquista da Libertadores, e encerrou afirmando que “a verdade, como o Sol, sempre sairá”. Em situações como essa, porém, todo cuidado é pouco.
Mas a ansiedade – presente em alto grau na nossa sociedade hoje – faz com que sejam disparados comentários e notícias feitos sem qualquer critério de responsabilidade. E sabemos que, nesses casos, depois da porta arrombada, o estrago está feito – e depois é difícil, se não impossível, se fazer justiça.
É necessário equilíbrio, mas isso é o que mais falta em nossos meios de comunicação. Quem publica e posta coisas absurdas costuma ancorar-se numa suposta “liberdade de expressão”. Mas é horroroso nos depararmos com esse tipo de argumento quando estamos diante, por exemplo, de vídeos” anunciados assim: “Veja como acabou esse jogador… que teve fortuna e…” acompanhados de fotos chocantes e mentirosas.
Como é possível que ainda possa existir num meio de comunicação tamanha irresponsabilidade e primarismo? Da mesma forma, não posso me arvorar em advogado do Marcelo, até porque não tenho maior conhecimento de fatos que, necessariamente, tenham sido comprovados.
Mas é mesmo muito estranho que um jogador com o acúmulo de experiência como é o caso de Marcelo fosse dar margem e motivo a acusações descabidas ligadas ao relacionamento com companheiros do campo e do dia a dia. Marcelo tem uma carreira irrepreensível.
Li que ele é o detentor do maior número de títulos pelo Real Madrid, onde foi campeão de tudo – embora, obviamente, isso não se confunda com o trato pessoal. Ele também nunca tinha sido alvo de qualquer maledicência até este episódio, que merece elucidação.
Não são incomuns dificuldades e problemas entre jogadores e treinadores numa fronteira tênue como essa. Quando a coisa desanda, só mesmo uma direção com alto grau de profissionalismo tem a capacidade de se antecipar a um desfecho desalentador como esse – no qual todos saem perdendo por descontrole da situação. Mas, felizmente, a arte nos salva do desespero com os grandes feitos da criatividade humana.
No futebol, por exemplo, apenas para citar um caso, tivemos o gol de falta do Alan Patrick pelo Internacional gaúcho nesta semana. Foi um lance capaz de lavar a alma. Neste ponto, cabe, inclusive, ressaltar que a campanha do Colorado nesta fase do campeonato é mais um ponto a evidenciar o belo trabalho do competente Roger Machado.
Outra boa notícia é a definida classificação do Santos F.C. para a divisão principal. E já lembramos aqui o crescimento, nas últimas temporadas, do Mirassol e do Novo Horizontino. Ambos são evidência de trabalhos bem construídos que têm despontado pelo Brasil.
Agora, ao encerrar-se a temporada, todos os jogos são decisivos: tanto para títulos e classificações importantes quanto para as ameaças de rebaixamento. A aproximação dos jogos finais vai afunilando o caminho dos pretendentes e aumentando a tensão.
As vitórias do Corinthians sobre o Palmeiras e do Botafogo sobre o Vasco mexem de modo significativo nos números da tabela de pontos do Brasileirão, mas não são nada que antecipe o desfecho do campeonato. •
Publicado na edição n° 1336 de CartaCapital, em 13 de novembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O caso Marcelo’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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