Opinião

O café merecia mais. O ano todo, dia sim, dia também

A cultura cafeeira é tão bela e nobre que tem mais de duas datas de homenagens

Grãos de café. Foto: Marcello Casal Jr/ Agencia Brasil
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No dia 14 de abril, comemorou-se o Dia Mundial do Café. A cultura cafeeira é tão bela e nobre que tem mais duas datas de homenagens. Em 24 de maio, o Dia Nacional do Café, instituído pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), e em 1º de outubro, o Dia Internacional do Café, criado pela Organização Internacional do Café (OIC).

Merecia mais. O ano todo, dia sim, dia também. Como o é para mim.

Cronista sempre é assim. Não deixa passar oportunidade para falar de alguma experiência pessoal. A minha remonta à década de 1970, quando amigo agrônomo, colega de trabalho, me convenceu a vender a pequena chácara em Bragança Paulista e comprar uma propriedade maior, em Socorro (SP), divisa com Monte Sião (MG), para começar a plantar café e meu futuro.

Fiz de lá, lazer para meus filhos, ainda crianças, uma sede em estilo das antigas fazendas de café de São Paulo, sul de Minas Gerais, e Rio de Janeiro. 

Em pouco mais de 20 anos, plantei, tratei e produzi em 200 mil de pés de café, todos saudáveis. Uma pirambeira de 90 hectares na Mantiqueira. Nunca derrubei um só hectare de mata. Quando um gerente queimou a mata para aumentar a área de lavoura, fiz com que replantasse toda a mata.

Executivo do setor de fertilizantes, boa remuneração, lá investi todo o dinheiro que me sobrava. Período de preços baixos. Mais perdi do que ganhei.

Pouco importava. Além dos cafezais, meu prazer eram os amigos frequentarem a fazendola, filhos e seus amigos aproveitarem o lazer, as festas de pamonhas e curaus, a alegria junto às famílias que lá moravam e cuidavam. Muitos, da metrópole, acabavam sabendo do mundo rural.

Esta uma história que termina em 1998, e pesaram em meus ombros até, sei lá, 2016? Prefiro esquecer, mas amigos mais próximos conhecem o final da epopeia passada por esta véia carcaça.

De todas as leituras sobre o café é “Cafeicultura Prática”, escrita pelos agrônomos José Peres Romero, com quem trabalhei muitos anos e, depois me ensinou o que fazer na fazendola, em várias visitas, e seu filho João Carlos Peres Romero. O livro foi publicado em 1997, pela Editora Agronômica Ceres. O título pode induzir os leitores a um manual técnico. Não é. Trata-se de uma cronografia da cultura, desde seus primórdios (1400), ano a ano, até 1940. No último verbete, se dedica ao “novo rei do café”. Transcrevo:

“[Após 1940] terminaria no Brasil, sudeste pelo menos, o plantio de café em cima de derrubadas e queimadas, iniciando-se então, uma nova agricultura agronômica, socialmente mais justa, economicamente mais certa e ecologicamente mais correta”.   

Talvez seja isso que o atual isolamento me faça mais dolorido. Não sair pelas regiões cafeeiras, botas em pernas já menos fortes, cruzando taliões, mastigar um grão quase cereja, e verificar o comprimento dos ramos para a próxima safra. 

Não poder cruzar Socorro, Itapira, São José do Rio Pardo, em São Paulo, Muzambinho, Poços de Caldas, Guaxupé, o Povoado dos Mocambos, as montanhas cafeeiras, Juruaia, Nova Resende, Petúnia, no sul de Minas, e ver a sanidade do que lá se plantou, é o que me faz pensar largar essa infeliz quarentena. 

Se der, um dia eu volto, terras que não consigo esquecer.

Inté! 

Nota: segundas, quartas e sextas estou fazendo uma transmissão ao vivo na página da Biocampo Desenvolvimento Agrícola, do Facebook. Não sou bom nisso, mas se me derem tempo ainda pretendo melhorar. É no Vasco. Em mais de 15 anos, nunca esperei ganhar algum escrevendo para as digitais. Prestigiem minha página.

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