Opinião

O Brasil se isola – e sufoca a força libertadora contra a opressão

Como se chegou a esse desastre é a pergunta que toda a comunidade internacional não cansa de repetir, ao mirar o Brasil

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Uma das premissas do colonialismo é isolar a colônia, que, totalmente subordinada à metrópole, só pode manter intercâmbio com quem lhe for permitido.

Sob essa luz, podemos entender os motivos da saída do Brasil da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), recentemente anunciadas pelo presidente ilegítimo.

Como todas as outras medidas adotadas por este desgoverno, as diretrizes claramente vieram da sede, Washington, sendo apenas executadas pelo grupo miliciano no poder.

Entretanto, o atual isolamento não veio da noite para o dia. Trata-se de política cuidadosamente executada pelos governos imperialistas, a fim de impedir que a união dos oprimidos se transforme em força libertadora contra a opressão.

Pode-se ver isso na programação da rede hegemônica, a Globo, que restringe sua cobertura internacional ao máximo e defende, de forma canina, as políticas de agressão do império em todo o mundo.

Por outro lado, os que buscam romper essa hegemonia, como a Telesur venezuelana, têm seu sinal constantemente ameaçado, assim como as rádios comunitárias no continente. Na Bolívia, após o golpe, 53 rádios comunitárias foram fechadas.

O isolamento se dá também pela destruição da indústria nacional. O ex-presidente Lula acredita que a Lava Jato trouxe prejuízos à indústria nacional que montam a mais de 250 bilhões de reais.

Vale recordar que antes da Lava Jato as empreiteiras brasileiras construíam em todo o Continente, na África, no Oriente Médio e na própria América do Norte.

Em Davos, o sinistro da economia anunciou a abertura das concorrências públicas às empresas estrangeiras, que ele representa. Será a pá de cal no enterro do setor, que chegou a empregar centenas de milhares de pessoas.

No campo tecnológico, que implica o futuro da nação, o isolamento é ainda mais cruel, com o fim do programa de bolsas para o exterior. A nomeação de um criacionista para a chefia da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) certamente não permitirá a reversão do quadro.

Como se chegou a esse desastre é a pergunta que toda a comunidade internacional não cansa de repetir, ao mirar o Brasil.

A resposta é complexa, pois envolve tanto fatores políticos quanto psicológicos. No campo da política, o imperialismo desponta como o principal elemento da redução do país à condição de colônia.

Elaborado por um misto de instituições públicas e privadas dos Estados Unidos da América e de Israel, o golpe encontrou nos capitães do mato locais (setores do judiciário, da imprensa, do legislativo e do executivo – principalmente das Forças Armadas) aliados prontos a trocarem vantagens pessoais pela independência do país.

Os erros da esquerda tampouco podem ser minorados, sendo o maior deles a ilusão de que a casa grande aceitara a senzala, caso ímpar no mundo, como temos a jabuticaba e o peru à brasileira.

Infelizmente, não era o caso e a sensação de movimento extraordinário se devia, antes, às nuvens de papel que a oligarquia ia passando por fora da janela.

Triste ilusão.

O país com as maiores riquezas do mundo se vê apenas como colônia e a essa imagem foi reduzido.

Crê-se incapaz de determinar o próprio futuro e, de fato, outros já o fazem.

Por desconhecer a história, acreditou em um slogan nazista, que ao invés de o alçar, projetou o país na pobreza, no descrédito, na derrisão internacional.

Restam perguntas gramscianas: como o oprimido vota no opressor? Como um país rico se vê pobre? Como um livre decide ser cativo?

Talvez as respostas passem pelo fato de que os oprimidos nunca participaram do processo decisório que os libertou; foram vistos como consumidores, quando queriam ser vistos como cidadãos; não queriam ser pedreiros apenas, mas arquitetos de uma nova sociedade.

Por conseguinte, o espelho em que se viam era o do dominador: branco, machista, misógino, homofóbico e violento.

O desprezo do dominador internacional era mais forte do que a admiração do resto do mundo, que não podiam ver, sentir ou ouvir.

Uma nave em alto mar estava menos isolada. Sem imagem, não existimos.

Como reverter o atual pesadelo e talvez chegar ao sonho? Romper o isolamento pode ser um primeiro passo.

De que modo? Só com participação social, que precisará ser estendida, em redes, a todo o mundo.

Só nos perceberemos como provincianos – a que fomos reduzidos – quando estivermos em redes mais amplas, em todos os campos.

Será um trabalho longo e hercúleo; desafiará as esquerdas, que tampouco estão preparadas para isso; será trazer o novo do outro, uma construção coletiva e real; uma leitura mista de Gramsci, Rosa Luxemburgo e Paulo Freire, em tempo real.

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