

Opinião
O Brasil no Catar
A decisão entre Flamengo e PSG envolveu uma série de fatores ignorados pela torcida. Nossa carência técnica, às vezes, é absurda
A finalíssima da Copa Intercontinental, em Doha, na quarta-feira 17, antecipou o encerramento do ano para o futebol brasileiro.
Agora, o que nos resta é a Copa do Brasil e algum jogo perdido no tumulto desse calendário desencontrado mundo afora.
O esperado confronto entre os campeões continentais seguiu à risca o roteiro da Fifa e serviu para mostrar como anda o futebol profissional nos tempos atuais.
O jogo colocou frente a frente o campeão sul-americano, Flamengo, e o europeu, Paris Saint-Germain, após ambos despacharem os demais concorrentes na rodada anterior.
Se os dois times chegaram à final, é porque tiveram competência, mas aqui no Brasil ninguém considerava a possibilidade de o Flamengo retornar para casa sem mais um troféu em sua temporada vitoriosa – uma campanha que é a cara da nossa brasilidade.
Acontece que a decisão envolveu uma série de fatores que não poderiam ser ignorados, ao menos pelos especialistas. Nossa carência técnica, às vezes, é absurda.
O Flamengo conseguiu arrastar a decisão para a prorrogação e para os pênaltis por ser o melhor time do nosso continente hoje, mas precisou superar obstáculos pesados.
A começar pela diferença entre os estágios dos campeonatos: enquanto os europeus estão no meio da temporada, em pleno vapor, por aqui o ano desportivo já está fechando as portas.
As condições prévias do Flamengo eram piores em relação ao desgaste e, principalmente, ao momento que as equipes vivem quanto à orientação coletiva e individual. Embora os dois times fossem verdadeiras seleções internacionais, as formas de atuar foram distintas.
No PSG do técnico Luis Enrique, os jogadores tiveram muito mais liberdade individual. Isso ficou evidente na iniciativa de cada um: o drible e a capacidade de improvisar foram o diferencial.
Ou seja, vimos muito mais “um contra um” por parte dos franceses. O drible ainda é a palavra mágica, pois é ele que desequilibra os sistemas táticos.
A disputa foi para os pênaltis porque o Flamengo do Filipe Luís também foi coeso. A administração do clube permitiu a formação de um elenco qualificado o suficiente para resistir à diferença de ritmo entre os dois times.
No segundo tempo e na prorrogação, o equilíbrio aumentou, ao contrário da etapa inicial, onde a vantagem foi toda dos europeus.
Ali surgiu a comprovação do desgaste: Plata saiu com cãibras depois de um drible; Bruno Henrique terminou exausto.
Do lado adversário, o excelente Kvaratskhelia (nomezinho complicado!) foi flagrado com olheiras profundas, estirado no chão depois de tentar uma bicicleta que saiu com o pneu furado.
Nem a entrada do extraordinário Dembélé – que ostenta o título de melhor do mundo pela Fifa e pela France Football – resolveu muita coisa. Sem sintonia naquele sufoco do fim do jogo, ele pouco acrescentou.
Restaram os pênaltis, que carimbaram o estado de exaustão de todos, embora com o mérito dos goleiros Safonov e Rossi, que foram espetaculares. Foi um festival de cobranças perdidas.
Dembélé, do alto de sua glória, isolou a bola como se desse um tiro de meta.
Marquinhos, nosso capitão no PSG, foi outro que bateu mal. Antes, ele já tinha perdido uma chance clara na pequena área, onde bastava escorar para garantir a vitória. Parece que ele esqueceu, por um momento, que é zagueiro central. Escapou do castigo com o título do Paris.
O clube francês mostrou um elenco recheado de craques consagrados e jovens sensacionais. Além do goleiro Safonov, destacaram-se Barcola, João Neves e o espanhol Fabián Ruiz.
Mas a honra de grande nome da decisão coube ao português Nuno Mendes, que esteve no auge da forma técnica e física em uma partida primorosa. Mereceram o título. •
Publicado na edição n° 1393 de CartaCapital, em 24 de dezembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O Brasil no Catar’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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