Opinião

O Brasil cresceu sob o signo da competição, não da cooperação

Entretanto, crescemos e temos condições de refletir sobre as desigualdades que gera e as causas

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“Dizem que Albert Einstein dizia que a pergunta mais importante da vida era se, de fato, o universo é um lugar amistoso.” – Marcelo Barros.

Talvez essa seja uma das questões mais relevantes para entendermos nossa passagem por esta vida e, eventualmente, para os que creem, nossa missão na Terra.

Vale notar que entre escolas de relações internacionais também há disputa sobre o tema.

Com efeito, para os que se autointitulam “realistas”, são os interesses que dominam as relações entre os Estados, cabendo indagar como veem as relações interpessoais e por que distinguem estas daquelas.

O mercantilismo, que marcou nossa origem como nação colonizada, baseava a visão das relações entre os Estados nas trocas comerciais, estabelecendo competição entre eles, por maior superavit comercial.

Nascemos, portanto, sob o signo da competição, não da cooperação.

Entretanto, crescemos e temos condições de refletir sobre as desigualdades que gera e as causas.

O Brasil independente tornou-se ator internacional e deve encontrar seu papel nessa cena.

Triste cenário, em que, em pleno século XXI, verificamos que 1/3 das mortes infantis no mundo são causadas pela desnutrição. Pior, metade dos casos de desnutrição resulta da falta de água potável e saneamento básico.

Como podemos mudar esse padrão competitivo para um cooperativo?

Vemos que, aqui e alhures, a participação popular é fundamental.

Entretanto, muitas vezes, por preconceito, desprezamos o papel das igrejas para atingirmos aquele objetivo.

Nesse sentido, pode ser útil entender o funcionamento das Igrejas evangélicas que tanto crescem no Brasil e no Sul do mundo, em geral.

Talvez a forma mais participativa como funcionam, sem tantos dogmas, possa ser uma chave de compreensão.

Na Igreja Católica, por exemplo, em todo o ritual da missa apenas o celebrante tem a palavra – e ele sempre é um homem…na maioria das vezes, branco…

Às mulheres, cabem apenas os papéis acessórios: leituras, cantos, decoração e arrumação do templo etc.

Por isso, vemos a cultura feminina mais empoderada para a cooperação e a gratuidade.

No capitalismo, que se sucedeu ao mercantilismo, a competição permaneceu ainda mais acirrada, marcando as relações entre os Estados, assim como aquelas interpessoais.

“Tempo é dinheiro” e, portanto, não podemos desperdiçá-lo com atenção a outras pessoas, cumprimentos ou até salários menores por mais tempo para o lazer, seja ele leitura, esportes ou o que desejarmos, mesmo o ócio puro e simples, “macunaimando” pelo mundo.

Por outro lado, não haveria relação entre esse utilitarismo e o consumo, crescente, de drogas?

Prazer e gratuidade não estão em relação direta? Pode haver aquele sem esta?

Na mesma toada, pode haver amor sem gratuidade? Não é o amor o ápice do prazer? Como podemos amar, olhando o relógio?

Por isso, considero o relógio de pulso, inventado por Santos Dumont e executado a pedido dele pela casa Cartier, um dos itens mais importantes da elegância: torna possível ver as horas sem que isso seja ostensivo com relação ao interlocutor.

Talvez essa seja uma das dimensões mais difíceis da aposentadoria: deixar de trocar tempo por dinheiro. Entretanto, após fazê-lo por tanto tempo, como mudar de perspectiva? Como fazer coisas a troco de nada?

Em outro verso, como não estar disponível para todas as vontades e necessidades alheias? Como fazer entender que aposentadoria não é desemprego em uma sociedade que – hipocritamente – romantiza o trabalho?

Em outra chave, como aceitar que apesar de todo o tempo do mundo – que nos resta – há margens a que nossos rios devem-se conformar?

Ocorrerem-me dois exemplos singelos e pessoais: um buffet da casa de meus pais, que por ser tão grande não comportava ser removido para um apartamento na capital.

Foi o que nos salvou de cometer enorme erro, tentando tirá-los da própria casa, para local supostamente mais seguro.

Anos depois, com a morte deles, ficou o cachorro, que tampouco comportava ser levado para um apartamento; pior, a mil quilômetros de distância.

Conclusão: quem decidiu se mudar para a casa fui eu, decisão acertada, mas que provavelmente eu não teria tomado, sem aquele determinante.

O mesmo creio que se aplica a qualificar, julgar, rotular. Tendemos a evitar, mas nem sempre é possível.

Por exemplo, sobre a polêmica com relação à Nicarágua, à Venezuela, a Cuba e à Rússia.

Nos três primeiros casos, tratam-se de partidos no poder, de caráter revolucionário: realizaram reformas agrárias, extinguiram o analfabetismo, possuem políticas externas anti-imperialistas etc.

Estão em patamar diverso do Partido dos Trabalhadores, de cunho reformista. Por isso, não se pode buscar identidade onde não há, podendo ser útil explicitar essa diferença, para que não se confunda social-democrcia com comunismo, por exemplo.

No caso da Rússia, o passado revolucionário ainda determina as relações políticas, inclusive no que diz respeito ao déficit democrático nunca superado pela história soviética, para o qual tristemente concorreram o nazismo, o fascismo e o stalinismo, margens de um mesmo caudal, que a humanidade ainda custa a superar.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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