Cesar Calejon

Jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É autor dos livros 'A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI' (Kotter) e 'Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil' (Contracorrente)

Opinião

O apoio incondicional ao presidente custa cada vez mais caro aos bolsonaristas

O apoio à cruzada do presidente contra a democracia, a ciência e as lutas civilizatórias põe em risco carreiras, reputações e liberdades

(Reprodução/Twitter)
Apoie Siga-nos no

Você certamente tem amigos ou parentes racistas, homofóbicos e misóginos (elitistas, enfim). Mas que, até a ascensão do bolsonarismo, escondiam-se atrás do que antes chamávamos de “social-democracia”. A partir de 2016, no que seria o início da ascensão do bolsonarismo no Brasil, houve uma reorganização da estrutura social brasileira. Não somente nos âmbitos coletivos (trabalho, clube, mercado etc.), mas no cerne das famílias e das relações mais próximas.

Melhores amigos brigaram. Irmãos discutiram. Pais e filhos, aos gritos, se desentenderam . Foi um período muito conturbado. Sob o bolsonarismo, aquele tio que faz piadinhas no almoço sobre gays e negros e que diz que mulher não sabe dirigir mostrou a cara.

Mais de 605 mil mortos depois e diante de um colapso estabelecido em todas as searas da vida brasileira, as poucas figuras que ainda defendem publicamente o bolsonarismo pagam um preço cada vez mais alto por isso.

Ao se alinharem à cruzada do presidente contra a democracia, a ciência e as lutas civilizatórias modernas, apoiadores como Sara Winter, Allan dos Santos, Daniel Silveira e Roberto Jefferson foram detidos ou tiveram as suas prisões decretadas. Ou seja, pagaram com a liberdade pelos erros que cometeram.

 

Outros dois exemplos de o quanto tóxico o bolsonarismo se tornou são os artistas Sergio Reis e Amado Batista. Depois de gravar um vídeo ameaçando o Judiciário e incitando atos antidemocráticos, o “menino da porteira” passou de astro a investigado pela Polícia Federal. Perdeu shows, contatos, prestígio e, para evitar a prisão, calou-se. Batista — assim como outros cantores sertanejos, alguns aconselhados pelo próprio Sergio Reis — enveredou pelo mesmo caminho: notificado pela Justiça a prestar esclarecimentos, também recuou.

Essa semana, o jogador de vôlei Maurício Souza foi dispensado pelo Minas Tênis Clube, após uma série de postagens homofóbicas feitas no Instagram. O atleta chegou a pedir desculpa, mas ainda assim foi demitido pelo clube, que afirmou, via Twitter:

Invariavelmente, os bolsonaristas recorrerm a dois argumentos falaciosos quando confrontados com as consequências das suas próprias escolhas e condutas: os valores da “família tradicional” e a liberdade de expressão.

Vale analisar ambos sob a luz da Constituição. Nesse contexto, a família (Art. 226) não exclui a possibilidade de outros modelos de entidade familiar: “§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas”.

Em seguida, o princípio da liberdade de expressão (artigos 5º e 220) consagra: “(…) é livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato” e que fica impedida “(…) toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Evidentemente, essas resoluções não se aplicam para crimes previstos pela própria Carta Magna, como racismo e homofobia.

Crimes não se aplicam à categoria da liberdade de expressão, porque ferem o direito dos outros membros que constituem a República. Além de extremamente imorais, essas posturas caracterizam crimes e, conforme notamos de forma explícita no atual momento sociopolítico que vivemos, custam muito caro aos seus perpetradores.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo