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Nosso trabalho estará completo quando nós mesmos formos dispensáveis

Élder Ximenes, promotor de justiça no Ceará, escreve uma ficção onde tudo é reescrito e censurado por uma ditadura teocrática.

Incêndio da Notre Dame em Pairs. Foto: Thomas SAMSON/AFP
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Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro arde em chamas. O Povo de Deus aplaude.

Pela segunda vez em menos de seis meses a antiga sede da Religião Católica no Estado do Rio passa por incêndio, desta vez em grandes proporções. Como podemos ver das imagens, toda a estrutura do famoso imóvel foi atingida.

O Chefe do Corpo de Bombeiros, explica que, por questões de segurança, orientou sua equipe a fazer apenas a contenção externa das chamas, evitando riscos de outros imóveis ou da rede elétrica serem atingidos. Como já estava há anos desocupado, não houve maiores riscos. 

A população comenta:

– Agora dá para construir alguma coisa útil para a população (Sandra … – Professora Universitária)

– Era uma construção muito feia para nossa cidade. É um final merecido. Vou assistir até o fim (João … – Funcionário Público)

Mais detalhes aqui…

Irmão Monte: Que tal? Fiquei em dúvida sobre usar o “Povo de Deus” ou “População”. Naquela época ainda não éramos unânimes… Prefiro ser exato.

Irmão Serra: Gostei. O principal você fez muito bem, como sempre. Nenhuma inferência a violência ou contenções. Acho que pode deixar a expressão. Fixa a ideia da transcendência. 

I. Monte: Pensei nisso. Mas é que, por outro lado, se sempre estaremos aqui, nem sempre estivemos. A Obra Eterna teve um começo e um Processo. Mesmo tantos anos depois…

I. Serra: Aliás, o termo Católico deve sair no próximo ciclo, não é? O último.

I. Monte: Sim. Fechado. Mais alguns anos e os antigos estarão na Paz. Aí não teremos nenhum testemunho para perturbar. Esta notícia aí de cima é praticamente um fóssil!

I. Serra: Por isto que é perigosa! Mas eu gostaria de estar por aqui e ver esta etapa concluída, enfim. A sense of closure

I. Monte: Quem sabe? Mas é até irônico que apenas nós conheçamos aqueles nomes antigos: ubandas, índios, espirritas. Nem o Index precisa registrar mais. Quando nós estivermos na Paz, pronto! Nenhum sinal sobre a Terra.

I. Serra: É verdade. Mas estes aqui demoraram muito mais. Houve um tempo em que eram maioria e oprimiam-nos a todos…

Irmão. Mar: Toda a graça ao Misericordioso.

I. Monte: E Misericordiador

I. Serra: E Misericordiador.

I. Mar: Bom dia. Vi agora a postagem. Creio que está bom assim. Sugiro inserir que as pessoas já queriam a piscina pública. Fixa a generosidade de quem ouve o rebanho e melhor o conduz.

I. Monte: Tentei, mas assim as pesquisas geram externalidades. Um link cai numa igreja em Moscou que os comunistas demoliram, fizeram um piscinão e depois reconstruíram. Coincidência horrível! Aí aparece o nome União Soviética e daí para a Guerra e todo tipo de mentiras!

Catedral de Cristo Salvador, uma das mais conhecidas de Moscou, vivenciou três regimes políticos e chegou a ser demolida.

I. Mar: A nova versão do Olho deveria derrubar estes links. Melhor exercer a prudência. Aquela guerra jamais existiu. Mantenha a versão e reporte.

I. Serra: O sistema está evoluindo…

I. Mar: Cuidado!

I. Serra: Perdão! … está sendo aperfeiçoado. Mas os bots dos hackeres inovam com paths diferentes por milissegundo e às vezes o Olho não redireciona as pesquisas. De todo modo, estamos em apenas uma falha a cada 5 milhões de consultas, com viés de baixa!

I. Mar: Medraremos; com fé e foco. O caminho é longo. Vocês são a melhor equipe com que trabalhei. Louvor.

I. Serra: Louvemos

I. Monte: Louvemos

I. Serra: Permite uma curiosidade? O papel. É verdade?

I. Mar: Para muito ver, muito viver. Sou muito antigo. E sim, tive em minhas mãos.

I. Serra: Livros mesmo?

I. Mar: Principalmente. E revistas. Quando revisamos os museus, jornais já não havia.

I. Monte: Não teve desejo de guardar uma lembrança? Sei que era impossível, mas vontade…

I. Mar: Nunca. A obediência sempre me trouxe tranquilidade. Sem as dúvidas, a mente não vacila. Em Sua vontade é nossa paz[1].

I. Monte: Em Sua vontade é nossa paz.

I. Serra: Em Sua vontade é nossa paz.

I. Monte: No final das contas, isto resume a missão dos Departamentos de História.

I. Serra: Tenho muito orgulho de ser Historiador.

I. Mar: Perfeitamente. Mas vim ao hub pois tenho outra demanda. Linkei agora. Pesquisas de estudante. Doze anos. Sem registro de contestadores na família. Vejam o arquivo 8 e as ramificações. A primeira logo.

I. Serra: Agora. ….. Que é isso! Como é que pode? Um artigo autorizado e nove cliques depois caiu no Genocídio de Myanmar? Olhem o peso – acho que foi a menção da ONU… Não. Quem puxou foi o #estuproscoletivos#. 

I. Monte: Terrível! Olha, para prevenir, vou colocar o nome do país, #genocídio# e os sinônimos no Index[2]. A garota a gente comunica para o Departamento de Educação acompanhar. Cortar logo tudo enquanto consertamos.

I. Mar: Já o fiz. Danos contidos. O D. E., vai acompanhar. Se houver convicção de contaminação, será isolada. Findará matando-se. Não se preocupem. Trabalhem na remoção dos mapas. As referências cruzadas também. Muitos links em muitas sintaxes.

I. Serra: Origem do problema: os descendentes dos envolvidos espalharam-se pela Ásia. Inconformistas. Teimam em manter aquela consciência[3] como se servisse para algo!

I. Monte: Estou vendo. Menos de dois milhões. Não será difícil.

I. Mar: Trabalhem com calma. Confio em vocês. Como sempre. Reportem-se amanhã. Encerro por aqui. Toda a graça ao Misericordiador.

I. Monte: E Misericordioso I. Serra: E Misericordioso.

….

I. Monte: Já pensou se tivéssemos algo assim no Brazil.

I. Serra: Provavelmente o Olho sustaria de imediato. Sem notícia de conflitos aqui e nós cuidamos para que assim seja cada vez mais.

I. Monte: Mas haveria pessoas, testemunhos, foragidos…

I. Serra: Não seria problema nosso. Não lidamos com a carne.

I. Monte: Nem sei se eu conseguiria trabalhar no Departamento da Ordem. Acho que teria pesadelos…

I. Serra: Como?

I. Monte: Brincadeira! Eu “sonho” tanto quanto você, meu caro. Meu nível de Fleuma[4] nunca baixou. Esqueceu que fazemos os exames juntos?

I. Serra: Claro, claro! Mas não diga essas coisas que me assusto! Sabe o que meditei? Um dia chegará em que a Obra Eterna mandará os Historiadores adequarem a própria existência do D. O.. Nenhuma parte antes do todo. Ninguém fora do todo. 

I. Monte: É a pura verdade. Lembra do Santo Tribunal Federal? Tão importante.

I. Serra: Prestou grandes serviços desde os Abertos Anos 10[5]… da tribulação para a certeza e a paz.

I. Monte: Mas se foi no penúltimo ciclo.

I. Serra: Junto com eleição e termos correlatos…

I. Monte: Com os correlatos, com tudo! Meu pai contava que ele mesmo deu o comando para o Olho. Nem sei que versão era aquela…

I. Serra: Eis a lição da humildade. Terrivelmente profético! Nosso trabalho estará completo quando nós mesmos formos dispensáveis.

I. Mar: Cuidado!


[1] E’n la sua volontade è nostra pace – Dante, Paraíso III, v. 85
[2] O Index Librorum Prohibitorum foi publicado pela primeira vez em 1559, Papa Paulo IV. Estamos na última versão, em IA.
[3] Do interrogatório de Lutero na Dieta de Worms: “Abandona tua consciência, irmão Martinho. A única coisa sem perigo consiste em submeter-se à autoridade estabelecida”.
[4] Versão saborizada do SOMA, droga da felicidade obrigatória; romance “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.
[5] Década de 2010. Versão edulcorada dos “Abertos 80” (década de 1980) que antecederam o desastre ambiental e o totalitarismo; obra “Não Verás País Nenhum”, de Ignácio de Loyola Brandão.

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