Opinião

No dia 3 de julho teremos ideia de quantos somos, ao tomarmos as ruas

A infeliz escolha em 2018 resultou na maior mortandade que este País já presenciou

Foto: Paulo Pinto / AFP
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“Suas ações não deveriam ser determinadas pelos desejos daqueles que estão à sua volta, mas sim pelas necessidades de toda a humanidade.”
Leon Tolstoi.

As mudanças climáticas induzem-nos à reflexão sobre nosso destino comum no planeta Terra. Descobrimos que o egoísmo só conduz ao suicídio – coletivo e individual, no curto ou no longo prazo.

Nesse sentido, o genocídio que vivemos atualmente no Brasil é tristemente simbólico: manipulada, uma parte da população optou, em 2018, por um projeto político egoísta (“Brasil acima de tudo” é a cópia manifesta do lema nazista “Deutschland uber alles”).

Aquela infeliz escolha resultou na maior mortandade que este País já presenciou: mais de 510 mil falecidos (número subnotificado, como todos sabem), dos quais, 400 mil assassinados pela incúria governamental, se considerarmos a média mundial internacional de infecções, como bem assinalou o professor Pedro Hallal, docente e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid.

Neste pobre rico país, morre-se de uma doença para a qual já existe imunizante; porém, o desgoverno preferiu a propina à vacina, como recém-descobrimos, embora de longa data intuíssemos a negociata.

Felizmente, aumenta o número dos que denunciam o descalabro. No dia 3/7 teremos ideia mais clara de quantos somos, ao tomarmos as ruas. No entanto, o silêncio de entidades como o Conselho Federal de Medicina e outros órgãos de classe (em mais de um sentido, no caso) é eloquente. A FIESP do pato? Não queriam pagar o “pato”, mas pagam silentes as covas? Suas congêneres como FIRJAN, FIERGS e CNI, onde estão? Migraram? Perderam a eloquência? Extraviaram-se-lhes as línguas? Tingiram-se de vermelho as camisetas da CBF? Sim, graças à covardia de vocês, nossa bandeira tornou-se vermelha, rubra de sangue inocente.

Seus interesses de classe, entendidos de forma estreita, pobre, inculta, falaram mais alto. Pensam, provavelmente, que o determinismo de pertencerem à classe dominante os isentará do juízo da história. Enganam-se redondamente, até mesmo porque a lista de milionários que foram além da estreiteza da própria classe social vai de Marx (a esposa era aristocrata) e Engels a Ludwig Wittgenstein, Giangiacomo Feltrinelli e Luchino Visconti, passando por Pasolini e Oswald de Andrade, Getulio Vargas e João Goulart, em terras nossas.

Entretanto, conservadores tem uma grande fragilidade, apesar das forças brutas com que contam (literalmente, no caso): eles são previsíveis. Tentam sempre repetir a história, esquecendo-se que os seres humanos, como os rios, estão em constante renovação orgânica.

Como disse o citado Karl Marx, a história só se repete como farsa, ou tragédia, como é o caso do Brasil da atualidade.

Nesse sentido, a inovação, a renovação tem de ser o antídoto ao veneno do mal, da estagnação e do atraso.

Estarão os partidos progressistas investindo nisso? Na participação? Na coleta de ideias? Fica a pergunta, a inquietação, a dica, se permitirem.

É possível verificar também nas relações internacionais: enquanto a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, defendem a abertura de diálogo direto com a Rússia, os países europeus satélites relutam em assumir o protagonismo das próprias relações exteriores.

Mirem-se no exemplo local, do Brasil: ao abrir mão de sua soberania, o país vê-se na contingência de receber doação de vacinas dos Estados Unidos, o principal ator por trás do golpe de 2016, que nos impediria de ter acesso à produção do nosso próprio imunizante. Não é à toa que Cuba batizou sua vacina contra a COVID, elaborada com tecnologia própria, de “soberana”. De fato, a soberania é condição sine qua non para a liberdade, a vida em plenitude.

Resta evidente a assertiva de Paulo Freire que recentemente li em artigo da revista Jacobin: “Educação como desocultação da verdade.” Disso se trata: de educação que emancipe, que forme cidadãos e cidadãs, que permita discernir! Que lhes enseje para a luta contra políticas subordinadas, de dependência, de morte, independentemente da classe social de origem, pois o fim da aventura humana pode estar muito próximo!

O mesmo engajamento vale para os médicos, os enfermeiros, os diplomatas e os jornalistas, dentre outros. Não basta reproduzir: a vida exige o novo, a criação.

Outra vez, estarão as forças progressistas aptas a produzirem os mecanismos políticos para a discussão, o planejamento, a execução, o monitoramento e a avaliação das políticas públicas, dentro e fora do governo?

Como Eduardo Martins recorda no utilíssimo “Os 300 erros mais comuns da Língua Portuguesa” (editora Laselva Negócios): “cooperar para que alguma coisa ocorra é contribuir para; contribuir com equivale a dar apoio material a”. O segredo, no caso, será preferir “contribuir para” a “contribuir com”. Estarão as organizações de esquerda preparadas? A sociedade civil? As agremiações religiosas?

Quantas vidas podemos viver? Muitas, se vividas em comunhão, em amorosidade com os demais, de perto e de longe; nenhuma, no egocentrismo, no isolamento, na vaidade narcísica.

Que neste 28/6, dia internacional do orgulho LGBTQIA+, possamos viver, proteger e promover muitas vidas, participando, então, de muitas outras mais. Só assim teremos experimentado a riquíssima experiência da vida.

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