Luana Tolentino

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Mestra em Educação pela UFOP. Atuou como professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana. É autora dos livros 'Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula' (Mazza Edições) e 'Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil' (Papirus 7 Mares).

Opinião

Nilma Lino Gomes e o tempo de esperançar

A professora e ex-ministra foi a primeira mulher negra a assumir o cargo de reitora de uma universidade federal no Brasil

Foto: Divulgação
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Há quase duas décadas tenho o privilégio de acompanhar a trajetória da professora Nilma Lino Gomes, primeira mulher negra a assumir o cargo de reitora de uma universidade federal no Brasil. Entre 2013 e 2014, ela esteve à frente da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab).

Fazendo alusão ao título de seu primeiro livro, Nilma foi a “professora negra que vi de perto” durante uma palestra na UFMG, em 2006, o que me deixou profundamente impactada. À época, ela coordenava o projeto “Ações afirmativas”, que dentre outras coisas, tem como objetivo garantir o acesso e a permanência de estudantes negros na instituição. Foi em uma reunião do Ações que, aos 22 anos, pensei, senti pela primeira vez: como é bom ser negra!

A partir de então, Nilma passou a ser para mim uma referência não só teórica, mas também um farol que me inspira e fortalece. Seus textos, seu pensamento, estão sempre presentes nas minhas falas, nos espaços pelos quais transito. Com muita felicidade e orgulho, eu a vi assumir o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, no ano de 2015, onde permaneceu até 2016, em função do golpe político-jurídico-midiático perpetrado contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Os títulos e as honrarias recebidas, assim como a importância de Nilma Lino Gomes para o combate e a superação do racismo no Brasil, não cabem nesse texto. Se hoje temos no país políticas de ação afirmativa reconhecidas internacionalmente, como as cotas, que têm sido primordiais para a promoção da justiça racial e democratização do ensino superior, muito se deve ao trabalho empreendido pela professora Emérita da UFMG.

Na manhã de ontem, tive a oportunidade de ouvir Nilma mais uma vez. Ela participou de uma atividade do Novembro Negro, evento que promove reflexões em torno do mês da Consciência Negra, ao lado do professor Rodrigo Ednilson, meu orientador do doutorado, por quem tenho a mais profunda admiração e respeito.

Na mesa, a filha de dona Glória Lino abordou os avanços, as transformações promovidas pela legislação educacional antirracista no país, destacando o papel dos estudantes negros na transformação da universidade, dos currículos acadêmicos. Nilma destacou ainda os desafios para o enfrentamento dos abismos provocados pela discriminação racial em uma sociedade racista e com mentalidade escravocrata como a nossa.

Durante o encontro, a educadora trouxe para o centro do debate o contexto político atual. Nilma rememorou a violência que marcou o período eleitoral e as disputas que estavam em jogo. Ela falou do alívio que sentiu com a vitória apertada de Luiz Inácio Lula da Silva.

Disse mais: ressaltou que, nos próximos quatro anos, as forças do campo democrático, as esquerdas em especial, precisarão de “maturidade política”, uma vez que, dadas as dificuldades impostas ao presidente recém-eleito, teremos um governo também marcado por contradições.

Nilma destacou: “Não estamos em 2003. O Brasil mudou, o Brasil é outro. Não há orçamento, não há verbas para o Ministério das Mulheres, por exemplo. Teremos um governo de reconstrução. Por mais frágil que a democracia seja, é melhor que o fascismo”.

No encontro, por repetidas vezes, Nilma citou a palavra esperança. Sorrindo e fazendo coro aos ensinamentos do mestre Paulo Freire, Nilma Lino Gomes, que foi confirmada como integrante da equipe de transição do governo Lula, disse: é tempo de esperançar.

Olhando para trás e ainda sentindo na pele o rastro de destruição deixado pelo desgoverno que se aproxima do fim, fica fácil constatar que não temos outra alternativa.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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