Saímos da eleição perplexos, com a sensação de não entender o País. O Brasil havia se tornado incompreensível, com uma sociedade e uma vida política inexplicáveis. Nos dois primeiros meses de 2023, as coisas pioraram. Nem tanto pelo que vimos em 8 de janeiro, mas pelo que não vimos. Alguns dias depois da irrupção de toda aquela estupidez estávamos de volta à “normalidade” dos últimos anos. Nem sequer uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi instalada para manter em pauta a discussão. A mesma que não foi criada para apurar a responsabilidade pelo massacre do povo Yanomâmi, uma oportunidade de nos fazer pensar no país que queremos ser. Através dos dois silêncios, é como se reconhecêssemos que estamos onde a eleição mostrou, à beira da barbárie, sempre em risco de nos perder por dentro dela.
Está claro que o mais assustador no resultado do pleito foi a quantidade e a distribuição dos votos que o capitão recebeu. Quase a metade do eleitorado o preferiu, sendo majoritária na parte mais rica e desenvolvida do País. Considerando quem é Bolsonaro, sua trajetória política e o que foram os quatro anos em que esteve à frente do governo, a eleição brasileira foi mais surpreendente do que qualquer outra no mundo de hoje. Por piores que sejam personagens como Donald Trump, Boris Johnson e Narendra Modi, para ficar apenas nos principais expoentes da direita internacional, nenhum é tão ruim, no plano moral e intelectual, tão incompetente e cafajeste quanto o brasileiro. Para piorar, alguém que se apresentou como candidato de si mesmo, enquanto os outros disputaram eleições como representantes de grandes e tradicionais partidos.
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