Diversidade

Nasce o Espaço Feminismos Plurais

Fui à fundação do instituto lançado por Djamila Ribeiro sem fins lucrativos com o foco em educação e bem-estar da mulher.

Djamila Ribeiro lança Espaço Feminismos Plurais em São Paulo. Foto: Rodrigo Trevisan
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Em uma noite de outono, do dia 26 de abril de 2022, o Espaço Feminismos Plurais foi apresentado a um pequeno grupo e eu estava lá. A primeira coisa que senti foi a alegria que as pessoas emanavam. Caminhei pelo espaço e haviam flores, paredes em tons suaves que aliviam a mente, decoração cuidadosa e tudo iluminado de uma forma que transmitia aconchego e um ar intimista.

Djamila Ribeiro, Presidente do Instituto recebia a todos com abraços e um sorriso largo e quando fez seu discurso emocionou as pessoas contando que o espaço era um sonho antigo, posteriormente Mauricio Rocha, Diretor Administrativo mencionou em sua fala as mulheres de sua família. Imediatamente me lembrei de minha mãe e pensei nas vezes em que sonhei que existisse um lugar assim para ela.

Minha mãe tinha gostos sofisticados e fez parte de uma geração de mulheres em que o espaço doméstico era o lugar destinado a elas, pois passaram muitos anos de suas vidas se dedicando ao trabalho no interior de casas, cuidando de crianças, cozinhando, lavando, limpando, organizando a vida de famílias que nem sempre eram delas. Contudo, o cuidado com essas mulheres era negligenciado e raramente recebiam o reconhecimento merecido.

Silvia Maria e Djamila Ribeiro na recepção no Espaço Feminismos Plurais. Foto: Rodrigo Trevisan

Apesar de algumas conquistas, o número de mulheres vítimas de violência não para de crescer e ainda existem muitas dificuldades para que elas possam viver dignamente em uma sociedade que historicamente segue ensinando de diversas formas, que pensar em si mesmas e se colocar como prioridade é um comportamento questionável para corpos femininos.  O direito de ocupar espaços está relacionado ao cuidado com crianças, a exemplo dos trocadores de fraudas, que ainda permanecem na maioria, em banheiros identificados como exclusivamente femininos.

Em contrapartida, basta uma caminhada por qualquer cidade deste país para nos depararmos com muitos espaços de lazer ocupados na maioria por homens, acompanhados apenas de outros homens, como bares, campos de futebol, quadras desportivas, dentre outros.

O espaço Feminismos Plurais é um belo lugar pensado para receber mulheres, onde a preocupação com dimensões que envolvem a educação, saúde mental e física está presente. Uma Instituição que tem como política receber mulheres com a dignidade merecida e que elas têm direito.

Quando chegou o momento de voltar para casa, notei que bem em frente a porta há uma placa de prata com uma Arte. Nela está outra imagem de uma mulher entre plantas com a seguinte dedicatória: ”Para Oyá em nome das mulheres”.

Placa de Fundação do Espaço Feminismos Plurais. Foto: Rodrigo Trevisan.

Ao ler que o espaço está dedicado a Oyá, senhora dos meus caminhos, um sorriso solitário, daqueles que a gente esboça em segredo tomou conta de mim, a canção Folhas Secas composta por Nelson Cavaquinho ocupou meus pensamentos e cantei em volume inaudível diante da placa:

“Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira”…

Minha mãe me ensinou a amar essa canção e sempre dizia que em seus versos existem lições preciosas sobre como a vida que é feita de ciclos e que toda a natureza nos mostra de diversas formas que o presente, passado e futuro estão conectados.  Dizia que árvores derrubam no solo suas folhas no outono, se preparando para o inverno quando armazenam energia para que na primavera possam entregar ao mundo as flores e frutos.

Acredito que não por acaso o espaço Feminismos Plurais foi inaugurado no outono e no dia 5 de maio abrirá suas portas para abraçar todas as mulheres que diariamente, assim como eu, pisam muitas vezes descalças em folhas secas, carregando a certeza de que precisam cuidar de si mesmas prioritariamente, para que possam romper com ciclos de injustiças, deixando como legado aos que virão depois, uma terra ainda mais fértil do que a que prepararam com muita luta para nós.

Essa é a nossa responsabilidade ancestral e Djamila Ribeiro tem mostrado, que sonhos são sementes que ocupam nossa mente, que é possível trabalhar para que cresçam e se transformem em árvores que oferecem sombra, alimento, abrigo e beleza. Minha mãe e as mulheres de sua geração não puderam estar no Espaço Feminismos Plurais, mas eu e outras mulheres estaremos.

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