Henry Bugalho

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Henry Bugalho é curitibano, formado em Filosofia pela UFPR e especialista em Literatura e História. Com um estilo de vida nômade, já morou em Nova York, Buenos Aires, Perúgia, Madri, Lisboa, Manchester e Alicante. Por dois anos, viajou com sua família e cachorrinha pela Europa, morando cada mês numa cidade diferente. Autor de romances, contos, novelas, guias de viagem e um livro de fotografia. Foi editor da Revista SAMIZDAT, que, ao longo de seus 10 anos, revelou grandes talentos literários brasileiros. Desde 2015 apresenta um canal no Youtube, no qual fala de Filosofia, Literatura, Política e assuntos contemporâneos.

Opinião

Nas mãos de Bolsonaro, o Brasil vive em um triste jogo de xadrez 4D

O presidente é um péssimo jogador. Já cruzou o Rubicão, e já descruzou o Rubicão

Tabuleiro de xadrez (Foto: Wikimedia Commons)
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Influenciadores bolsonaristas nas redes sociais popularizaram a ideia de que a disputa política que integram nada mais é do que uma espécie de jogo de xadrez 4D (em quatro dimensões), ou seja, os movimentos das peças no tabuleiro são apenas uma pequena parte do que nós vemos, que, por detrás de tudo isto, existem as mãos que as movem, e as intenções da pessoa ao mover suas mãos.

Nesta guerra ideológica é preciso, assim como num jogo de xadrez tradicional, saber antecipar os movimentos do adversário. No entanto, é aí que entra a gigantesca diferença entre o xadrez e a política. No jogo de tabuleiro, há um número limitado de peças e de movimentos (embora, ao todo, as combinações possíveis beiram o incalculável) e há um objetivo claro – o xeque mate. Já na política – neste tal xadrez 4D – há centenas, senão milhares de peças importantes, e uma possibilidade virtualmente infinita de ações e respostas. Sendo assim, torna-se praticamente impossível antecipar os atos do adversário, a não ser que ele nos antecipe o que fará, seja com atos, falas ou sinais.

Bolsonaro é um péssimo jogador deste xadrez 4D. Já cruzou o Rubicão, e já descruzou o Rubicão. Seus atos são tão contraditórios e confusos que geralmente não temos clareza de se ele atua de modo intencional numa espécie de guerra de informação, ou se é tudo errático e decorrente de uma enorme falta de capacidade intelectual e de coordenação.

Se todo este caos em todas as frentes for intencional para vencer a partida, então Bolsonaro e sua equipe são gênios e têm a todos nós nas mãos. São brilhantes estrategistas, enganando-nos com maestria.

Todavia, se o caos for meramente um efeito colateral de um presidente incompetente e que não compreende suas atribuições, então este tal xadrez é uma mera construção ilusória brotando das mentes de um monte de fanáticos que enxerga motivos ocultos atrás de cada moita.

Pessoalmente, inclino-me a considerar mais seriamente esta segunda possibilidade: que neste governo estão todos meios perdidos, mas crentes de que têm tudo sob o controle.

Mesmo assim, as intenções são e sempre foram bastante claras. Sabemos o que Bolsonaro e seus apoiadores querem, pois eles nos revelam praticamente todos os dias.

Nas já habituais manifestações de domingo, que Bolsonaro costuma prestigiar, da última vez sobrevoando de helicóptero e depois desfilando a cavalo na melhor tradição fascista de Mussolini, as frases de efeito são as mesmas: pedem intervenção militar — “constitucional” obviamente, já que eles se importam tremendamente com a Constituição — , novo AI-5 (ah, que se dane a Constituição!) e fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso, tudo dentro da pura legalidade autoritária, é claro. Alguns, aliás, pedem até a volta da monarquia.

Neste improvável xadrez 4D, não basta estar ganhando, mas precisa parecer estar ganhando, e é neste ponto que Bolsonaro acaba se enrolando, pois, nas últimas semanas, ele vem acumulado uma derrota atrás da outra. A última foi o desenrolar do inquérito das fake news sob supervisão do ministro do STF Alexandre Moraes que atingiu muitos influenciares e empresários bolsonaristas e que tem o potencial de implicar Carlos Bolsonaro. O presidente subiu o tom, novas ameaças, muita indignação e indisposição na cúpula do governo. Sergio Moro e o vergonhoso vídeo da reunião ministerial já viraram notícia velha.

Se este fosse realmente um jogo de xadrez, eu diria que o ministro Alexandre de Moraes deu um xeque, desestabilizou o adversário e fez avanços, mas a partida ainda continua…

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