Paulo Nogueira Batista Jr.
[email protected]Economista. Foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor-executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países
O problema de utilizar taxas de câmbio correntes para comparar PIBs
Que mal pergunte: faltam por acaso motivos para criticar o governo Bolsonaro? Sobram, não é mesmo? E, no entanto, volta e meia a oposição recorre a argumentos duvidosos!
O pior é quando os pontos levantados atingem o próprio Brasil. Na ânsia de desmoralizar a qualquer custo o celerado que ocupa a Presidência da República, os críticos desmerecem e diminuem o País. Aí, leitor, o meu patriotismo desenfreado dá os célebres “arrancos triunfais de cachorro atropelado”, como diria Nelson Rodrigues.
Dou um exemplo. Afirma-se que, por causa da desastrosa política econômica dos anos recentes, a economia brasileira deixou de figurar entre as dez maiores do mundo. E que o Brasil teria agora uma economia relativamente pequena, com um PIB equivalente a cerca de 5% do PIB dos EUA ou da União Europeia.
Tem fundamento? Bem, a política econômica brasileira vem sendo desastrosa, sem dúvida. Mas essas afirmações subestimam a dimensão relativa da economia nacional.
Segundo a agência de classificação de risco Austin Rating, por exemplo, o Brasil teria caído, em 2021, de 12º para 13º na lista das maiores economias, tendo sido ultrapassado pela Austrália. Segundo a mesma agência, já tínhamos sido superados em 2020 pelo Canadá, pela Coreia do Sul e pela Rússia. Números semelhantes foram divulgados pela consultoria britânica Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios – a mesma que, em 2011, anunciou equivocadamente que a economia do Brasil estava prestes a ultrapassar a do Reino Unido e se tornar a 6ª maior do mundo.
Essas comparações migraram para o excelente discurso que Lula fez no lançamento da sua candidatura à Presidência: “Durante nossos governos, (…) o Brasil se tornou a 6ª maior economia do planeta. (…) Mas o atual governo fez o Brasil despencar para a 12ª posição no ranking das maiores economias”. Duplamente equivocado. Usando um critério correto de comparação dos PIBs, o Brasil não chegou à 6ª posição. E não caiu agora para a 12ª.
Onde está o problema? Essencialmente, na utilização das taxas de câmbio correntes para converter os PIBs e compará-los. Ocorre que as taxas cambiais variam de maneira acentuada. Isso torna o valor em dólares dos PIBs uma base frágil e enganosa de mensuração.
Assim, por exemplo, quando o real se valorizou muito, o nosso PIB convertido para dólares a taxas de câmbio correntes aumentou de modo significativo, levando-nos, de fato, a quase alcançar a 6ª posição no ranking mundial das economias por esse método de comparação. Mas o aumento do nosso PIB em dólares exagerava o tamanho relativo real da economia brasileira.
Inversamente, nos anos recentes e de forma ainda mais aguda, houve acentuada depreciação da moeda brasileira. Com isso, o PIB brasileiro, medido em dólares correntes, caiu realmente muito, levando-nos em 2020 para a 12ª posição e para a 13ª posição em 2021, segundo dados preliminares. Relativamente ao PIB dos Estados Unidos, o nosso representa 7% por esse critério.
Só que nada disso reflete bem o tamanho relativo do Brasil e o que realmente aconteceu na economia.
O método mais defensável de comparação é o que se baseia na taxa de câmbio por paridade de poder de compra (PPP) – taxa à qual se teria de converter uma moeda em outra para comprar a mesma quantidade de bens e serviços de qualidade comparável em cada país. Há levantamentos cuidadosos, publicados por organismos internacionais, que se baseiam nesse critério. (O tema é um pouco técnico e causa confusão até mesmo entre economistas. Vou tentar esclarecer melhor a questão em uma versão mais completa deste artigo, a ser publicada online).
Quando se usa esse critério mais correto, o Brasil aparece em 2021, como o 8º do mundo, ligeiramente acima do Reino Unido e da França, segundo dados preliminares, publicados pelo FMI. Chegamos a ocupar a 7ª posição na década passada, até sermos ultrapassados pela Indonésia.
E repare, leitor: o PIB brasileiro corresponde, na realidade, a 15% do PIB dos Estados Unidos e a 13% do PIB da China. Em termos per capita, o PIB-PPP do Brasil equivale a 23% do PIB dos Estados Unidos e a 84% do PIB da China.
Os dados mostram também que estamos em declínio relativo desde 2011, e em especial desde 2015, refletindo o nosso fraco desempenho e o rápido crescimento da Ásia. Mas vamos corrigir essa tendência a partir de 2023.
Permanece, de qualquer maneira, a constatação que sempre repito: o Brasil é um dos gigantes do mundo e faz parte de um grupo de apenas cinco países (com Estados Unidos, China, Índia e Rússia) que integram as listas dos dez maiores PIBs, territórios e populações do planeta. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1208 DE CARTACAPITAL, EM 18 DE MAIO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Não subestimem o Brasil!”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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