Opinião

Não há primavera possível em meio à tanta raiva da extrema-direita

O principal responsável pelos crimes de Aracruz – pelas políticas de ódio ideológico e de armamentismo irrestrito – é Bolsonaro

Foto: EVARISTO SA / AFP
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O ataque terrorista a duas escolas em Aracruz, no estado do Espírito Santo, não é um fato isolado, infelizmente.

O jovem que os perpetrou havia participado de bloqueios nas estradas, organizados por outros terroristas, e tinha o livro de Hitler em página de rede social.

Nesse sentido, é muito importante entender que o país está sob ataque terrorista, de origem interna e externa.

A imprensa – também na semana passada – reproduziu notícia do “The Washington Post”, segundo a qual Trump e Steve Bannon teriam estimulado Jair Bolsonaro a manter a contestação ao resultado das eleições.

Por essas razões, o principal responsável pelos crimes de Aracruz – pelas políticas de ódio ideológico e de armamentismo irrestrito – é Bolsonaro, coautor daquelas e de outras chacinas ditadas pela intolerância.

O julgamento desses crimes tem de ocorrer e as condenações, serem cumpridas, para que pais não continuem a estimular os filhos ao crime, como fez o miliciano ao longo de toda a vida, arruinando a própria existência, a dos filhos e, principalmente, de inocentes, como eram as quatro pessoas mortas em Aracruz, além das doze que ficaram feridas.

A extrema-direita deve ser contida.

Não há primavera possível em meio à tanta raiva, ignorância e pesar.

Temos direito à vida.

Para isso, é necessário haver saúde, educação e respeito aos direitos humanos, em sua totalidade.

Como seria bom podermos todos gozar das flores e da magnífica estação!

Neste período do ano em que a luz se prolonga, temos o ápice das florações, predominando o roxo dos jacarandás, dos agapantos e das hortênsias. Que privilégio vermos a natureza tão generosamente presentear-nos com a mais sofisticada das cores!

No Ocidente, acabamos por identificá-la mais à morte do que com a passagem para outro plano (o que diz muito de nossa predominância do temporal sobre o espiritual) e de nossa escassa crença em um plano mais repleto, de luz.

Contudo, a igreja católica também atribue a cor ao tempo do Advento, que prepara e antecede ao Natal.

A morte, de fato, ainda nos assusta e tê-la presente ao longo da vida constitui desafio para nossa coragem de viver.

Entretanto, sem a levarmos em conta, caímos na superficialidade, inevitavelmente.

Na bela e gigantesca biografia de Dostoiévski, em cinco volumes, escrita por Joseph Frank (EDUSP), verificamos que o momento mais crucial para aquele que talvez tenha sido o maior escritor russo foi o contato iminente com a morte, na encenação de seu fuzilamento, da qual não estava ciente, assim como seus companheiros, todos acreditando que de fato seriam fuzilados.

Desde aquele momento, o escritor teria passado a ter consciência da vida em sentido mais amplo, sendo capaz de distinguir o permanente e o episódico, ainda que sob as névoas da contradição, imanente aos seres humanos.

Se a morte nos assusta, imaginemos o martírio.

Ainda tomando o parâmetro da igreja católica, essa é a cor dos mártires, que espanta a extrema-direita.

Com efeito, em regiões mais conservadoras, como a Serra Gaúcha, o uso da cor corresponde praticamente a uma confissão ideológica, razão pela qual tende a desaparecer das vestimentas.

Como ainda somos primitivos os seres humanos! Nesse quesito, que diferença podemos colocar entre nós e um touro de arena? Nisso, nenhuma distinção nos aparta (e pela brutalidade do que vivemos, muitas outras nos assemelham).

Busquemos a ingenuidade dos animais, que tantas belas mensagens nos enviam, mas tenhamos presente que a riqueza da natureza não é a competição, como a extrema-direita supõe, mas a cooperação.

Está provado cientificamente que não teríamos atingido o alto grau civilizatório em chegamos, sem o concurso de todos e cada um deste imenso e rico planeta Terra, que está a ponto de nos expelir pelo nosso altíssimo, insano – e suicida – grau de agressividade aos demais seres humanos e ao meio ambiente, numa mistura de genocídio e ecocídio, do qual Jair Bolsonaro é o símbolo mais saliente.

Ao ter aberto a cloaca do inferno, com seu ódio, recalque e ignorância, o genocida e ecocida liberou as piores energias de egoísmo, competição e morte.

Caberá ao novo governo a recuperação dos valores da vida, da ética, da cultura e até da diversidade das cores, porque a morte, para a extrema-direita, corresponde às trevas. As cores, a vida assustam-na tanto quanto o arco-íris apavora Jair.

Façamos a primavera de fato florir, em ideias, amores, luzes e sabores.

Olhemos ao redor, pois a mensagens da vida não cessam de chegar pela natureza: a mais importante delas, a de que a vida sempre vence a morte; a felicidade, a tristeza; o amor, o ódio.

Até uma tempestade de 6 anos, como a que aqui vivemos, um dia chega ao fim.

Então, não será apenas um ano novo, mas uma vida nova, mais alegre e com mais cores.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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