

Opinião
Na ONU, Bolsonaro discursa como se fizesse uma live no YouTube
O presidente brasileiro mirou seus eleitores no Brasil e ignorou as expectativas das lideranças estrangeiras


Jair Bolsonaro não precisava ter se dado ao trabalho de viajar a Nova Iorque para fazer o discurso de abertura da Assembleia da ONU. Bastava uma live no YouTube. Por cerca de 40 minutos, o presidente brasileiro não se preocupou em dialogar com os líderes mundiais. Falou para seus eleitores. O elogio ao ministro Sergio Moro, o patriotismo na defesa da soberania da Amazônia e os ataques a um suposto “socialismo” e à ideologia que perigosamente invade os lares e rouba as almas dos brasileiros só causam alguma reação entre os bolsonaristas. Talvez por isso as câmeras tenham flagrado a chanceler alemã, Angela Merkel, em um providencial cochilo durante o discurso.
Os aplausos protocolares foram ainda mais protocolares: mornos e curtos. Prova de que as ideias de Bolsonaro provocam nas plateias estrangeiras não mais do que assombro e perplexidade, quando não desprezo. Sem dúvida, tratou-se do mais provinciano, démodé, rancoroso e medíocre discurso de um presidente brasileiro na história das aberturas de uma Assembleia da ONU. Adequado, porém, ao momento do País, transformado por obra própria em um pária na comunidade internacional, ator irrelevante, secundário, no tabuleiro geopolítico.
Donald Trump subiu ao púlpito em seguida. Diante da leitura claudicante e dos desvarios de Bolsonaro, o presidente norte-americano até soou como uma liderança razoável.
PS: Emmanuel Macron, presidente da França, só tem a agradecer. Ao se tornar um alvo preferencial de Bolsonaro, o vilão do meio ambiente, Macron encontrou uma nova agenda capaz de melhorar sua popularidade interna.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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