Não é de hoje que o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, tem demonstrado o seu interesse em construir uma verdadeira frente de esquerda. Uma frente progressista não enquanto elemento retórico ou para inglês ver, mas em nome de um novo modelo político e da construção de novas formas de fazer política no Brasil.
As diversas manifestações em que Guilherme mobilizou milhares de pessoas nas ruas de São Paulo e de Brasília, a ocupação feita pelo MTST ao triplex do Guarujá para denunciar a farsa da Lava Jato ao ocupar apartamento que serviu de estopim para à prisão de Lula, e fez com que Boulos fosse denunciado pelo Ministério Público Federal e virasse réu sob a acusação de invasão e ocupação mesmo sem o mesmo ter estado no local, marcaram posicionamentos enfáticos contra o golpe que se inicia em 2016 com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e amplia a intensidade com a prisão do ex-presidente Lula como forma de retirá-lo do cenário das eleições de 2018. Mais que isso! Boulos já sinalizava a disposição de unir a esquerda em um projeto de país moderno, democrático e baseado em um programa político que de fato seja capaz de apontar saídas para o povo brasileiro.
Nesta semana, ao se posicionar demonstrando o interesse de disputar o Governo de São Paulo, o que significa na prática não disputar as eleições presidenciais de 2022 e abrir caminho para uma candidatura de unidade onde possivelmente Lula desponta, pelo fato de ser um símbolo para esquerda latino-americana, essa disposição de construção coletiva, sem tergiversar, fica ainda mais evidente no grandioso gesto de Boulos.
Diferente do ‘toma lá, dá cá’ característico do centrão (ou arenão) e de outros espectros políticos que tentam se colocar como alternativa para o país, Boulos aponta saídas e propostas concretas para fazer conversar entre si partidos e movimentos que, embora defendam os mesmos princípios, nem sempre dialogaram com facilidade.
É fato, portanto, que o gesto de Boulos também tem ressonância interna. O líder do MTST apresenta uma possibilidade de um novo rumo do PSOL ao ultrapassar as atuais fronteiras e ousar avançar sobre outros setores, na política e na opinião partidária. Mas o principal impacto dessa sinalização é o da reconstrução da esperança para o eleitorado brasileiro, que passa a enxergar um caminho que possibilite a construção de um Brasil radicalmente diferente daquele apregoado pelo bolsonarismo.
A reação positiva da militância de esquerda nas redes sociais foi fundamental para sentir o humor dos brasileiros com essa possibilidade, mas sobretudo o desejo de uma unidade de esquerda contra o que há de pior na política, que é a extrema-direita genocida. Unidade essa que, em que pesem as críticas que recaem sobre o PT, tende naturalmente a se dar em torno do ex-presidente Lula, maior liderança viva do nosso espectro ideológico no mundo e o melhor colocado nas pesquisas de intenção de votos após ter seus direitos políticos reestabelecidos pelo STF.
O fato é que 2022 é logo ali e suicidar uma chance de derrotar o fascismo não pode ser uma tarefa assumida por nós. Primeiro, porque não podemos ser responsáveis pela catástrofe da reeleição de Jair Bolsonaro. E depois, porque sabemos todos que o fluxo político seguirá após as eleições do próximo ano, seja qual resultado as urnas apontarem. O fluxo natural da renovação que surge sempre após a barbárie.
Nesse curso das águas da política, a vitalidade, carisma, popularidade e as ideias e crenças pujantes nas nossas lutas junto às bases nos colocarão como protagonistas da construção de um outro Brasil, que inclua toda a sua gente, todos os brasileiros e as brasileiras. E aí, não tenhamos dúvidas, Boulos é a cara desse novo devir político, afinal de contas, passado 2022 e suas disputas, 2026 não é tão distante e o Brasil merece respirar outros ares.