Guilherme Ravache

Consultor digital. Jornalista com passagens pelas redações da Folha de S. Paulo, Revista Época e Editora Caras. Foi diretor de atendimento da Ideal H+K Strategies e gerente sênior de comunicação e marketing de relacionamento da Diageo.

Opinião

A fórmula do sucesso de Monark colapsou — mas outros assumirão seu lugar

Ele é apenas peça descartável da grande engrenagem das redes sociais e seus bilhões de dólares

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A questão sobre Monark e sua criminosa declaração sobre o nazismo não é se ele é um ignorante irresponsável que realiza entrevistas bêbado (como ele mesmo declarou). A questão é como lidaremos com os imbecis irresponsáveis como o Monark, que ganham visibilidade nas plataformas digitais justamente por serem ignorantes e irresponsáveis.

Em uma entrevista com os deputados Kim Kataguiri e Tabata Amaral, publicada na noite desta segunda-feira 7, o youtuber disse que a ideologia nazista não deveria ter sido criminalizada. “A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço. Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei.”

Hoje, Monark deixou a sociedade do podcast, que após a declaração perdeu a maior parte de seus patrocinadores. Mas resolvemos o problema? Para alguns, Monark se tornará um ícone da defesa da liberdade de expressão e provavelmente seguirá atraindo atenção e seguidores em outras plataformas digitais.

Além disso, para cada Monark que cai, existe outra dezena de candidatos a fazerem fortuna e fama nas plataformas digitais. Não é de hoje que o youtuber cria polêmicas e diz bobagens. São justamente os comportamentos irresponsáveis, porém, que o colocaram no lugar que ocupa hoje. 

Monark é parte de um movimento maior, que chamo de “profissionais da polêmica”. Obviamente, essa turma pode existir em todos os ramos profissionais, mas por sua natureza se concentram no jornalismo e na política. A fórmula que usam é manjada, mas eficiente. 

A receita do sucesso nas redes

Sob o manto da originalidade, ou algo que o valha, os polêmicos profissionais dizem absurdos que reverberam nas redes sociais e atraem seguidores. A internet é gigantesca, não é difícil achar alguns milhares de imbecis para seguir ideias imbecis. 

Mas somente isso não basta. O polêmico profissional é como massa de pão. Só cresce se tem alguém batendo nele. Desse modo, ele precisa encontrar antagonistas. Quanto mais antagonistas, mais pancadas e mais rápido ele cresce. Quanto mais indignadas as pessoas nas redes sociais, melhor.

É por essa razão que mesmo após bilhões de dólares investidos para a criação de redes sociais de direita nos Estados Unidos, inclusive para abrigar o ex-presidente Trump, nenhuma delas vingou e se tornou relevante. 

O problema é que os profissionais da polêmica normalmente são ocos. Seu grande mérito está no fato de saberem criar factoides. Para que sigam em evidência e crescendo, precisam criar polêmicas cada vez maiores. Mas para tudo existe um limite.

O limite da polêmica

Monark hoje descobriu o limite para um profissional da polêmica, disse algo tão extremo que rompeu a barreira do aceitável. A fórmula de sucesso foi quebrada e entrou em colapso. O comentário foi tão obsceno que mesmo sua base de seguidores (ou um número relevante deles) achou que um limite foi ultrapassado. 

Sem um número suficiente de defensores para atacar os críticos, a pancadaria que faz a massa de pão crescer desandou.

Apoiar Monark sob o argumento da liberdade de expressão é um prato cheio. Mas ele é apenas peça descartável da grande engrenagem das redes sociais e os bilhões de dólares que faturam. Em meio à polêmica, o vídeo de Monark no YouTube recebeu milhares de visitas. Os comentários negativos sobre ele e seus vídeos de explicação geraram milhões de views nas redes sociais.

O risco do discurso

Certamente, algumas pessoas que ouviram Monark e Kim Kataguiri naquela edição do Flow se viram justificadas nos próprios discursos de ódio ou ideias neonazistas. Então, é legítimo questionar se esse conteúdo deveria ter ido ao ar ou estar disponível nas redes sociais e plataformas como o YouTube.

Quando dão espaço a declarações de figuras como Monark, as plataformas podem estar incentivando esse tipo de comportamento e discurso. Permitem que os polêmicos profissionais encontrem seguidores é também monetizar ideias extremistas e discursos de ódio.

As redes sociais carecem dos mecanismos de controle editorial dos grandes veículos de mídia tradicional. Muitos esforços têm sido realizados nesse sentido por parte das empresas para evitar o problema. Mas, no atual modelo, a luta é inglória e a derrota é certa. 

A crença de que apenas algoritmos podem moderar conteúdo cada vez mais se prova uma falácia. Moderar conteúdo é caro e exige um posicionamento editorial das empresas. Obviamente, isso mudará a percepção que temos das redes sociais e reduzirá drasticamente os lucros das big techs. Mas é a forma mais efetiva de romper o ciclo de polarização e melhorar o debate.

Os profissionais da polêmica são descartáveis. Eles podem desaparecer, mas outros vão rapidamente assumir seus lugares e seguir propagando o discurso de ódio. 

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Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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