Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Momentos decisivos

A composição dos elencos e, principalmente, as condições físicas dos jogadores é que vão determinar o vencedor do Brasileirão

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A vitória espetacular do Palmeiras sobre a LDU já ficou para trás, engolida por uma semana que se acelera.

Agora, o foco são as decisões, as confusões que se avolumam e o calor que se aproxima com o fim do ano.

Falando nessas decisões, o “Periquito” – mascote do Palmeiras que se tornou também apelido do time – credenciou-se de vez como favorito ao Campeonato Brasileiro.

O problema é que as disputas em várias frentes complicam a vida tanto do Palmeiras quanto de seu principal adversário, o Urubu – apelido do Flamengo –, que o persegue de perto.

No fim das contas, a composição dos elencos e, principalmente, as condições físicas é que vão determinar o vencedor.

Por falar em condição física, a ­crueldad­e do tal calendário já mostra as garras.

O número de lesionados e poupados não para de crescer e isso, é claro, terá consequências também sobre a Seleção Brasileira.

Foram marcados jogos importantes dentro das Datas Fifa, o que, inevitavelmente, desfalcará times que brigam por títulos.

Esta situação caótica do calendário também gera contradições.

O treinador da Seleção, Carlo ­Ancelotti, argumenta que o seletivo que representa o País é prioridade e reitera que exige condição física ótima. No entanto, ele mesmo admite convocar jogadores sem essa exigência. É o retrato do caos.

O clima anda tão confuso que essa bagunça explodiu no II Fórum de Treinadores, promovido na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pela Federação Brasileira de Treinadores de Futebol (FBTF).

Inconformados com a quantidade de técnicos estrangeiros, dois colegas acharam que era hora de “lavar a roupa suja” em público, a despeito da presença do italiano Carlo Ancelotti.

Esse episódio acabou por escancarar a incompetência que toma conta do nosso futebol.

Alexandre Alliatti, em seu blog, no Globo Esporte, classificou o desencontro como “sincericídio” – comentário excelente, por sinal.

Essa bagunça na CBF não é nova: começa pela sequência de dirigentes afastados por irregularidades.

Como dizem, “a cabeça quando não pensa, o corpo padece”. A esperança é que, sob nova direção, venha a transformação profunda da qual precisamos.

E já que Carlo Ancelotti estava lá, vale dizer: a presença dele no Brasil é uma façanha.

Estamos falando do treinador mais valorizado do mundo. O melhor que fazemos é aproveitar sua capacidade para, de uma vez por todas, subir o sarrafo na preparação dos técnicos brasileiros.

Precisamos sair dessa era que alterna entre os “feitores”, que ganham o apelido de “disciplinadores”, e a obrigação “formalista”, aquela só da teoria.

Temos treinadores capazes, sem dúvida. A Seleção, inclusive, esteve em boas mãos com Dorival Jr., por exemplo, que tinha um projeto definido.

Mas, por ora, temos de aproveitar a oportunidade de ter Ancelotti. Um bom exemplo de sua mentalidade foi a recente declaração sobre Vinicius Jr., que perdeu a cabeça ao ser substituído em uma partida entre Real Madrid e Barcelona.

O treinador afirmou: “Não sou seu pai ou seu irmão, sou seu treinador. Não tenho nada com sua vida pessoal”. Isso mostra o critério dele e também motiva os “titulares absolutos” a não se acomodarem. É a velha máxima: “Futebol é momento”.

Falando em filosofia, outra declaração estimulante veio do zagueiro ­Adilson­, campeão mundial pelo São Paulo e hoje treinador do Sub-13 tricolor.

Me identifico totalmente com o que ele disse: “Não tiro o drible de ninguém, sem treino tático (excessivo) e sem palavrão com as crianças”.

Ele segue o que aprendeu, e eu concordo com ele na sentença: “De que serve a tática sem a técnica?”

Para fechar a semana, tivemos outros destaques: o gol sensacional de ­Arrascaeta­ (mais uma vez); o reencontro de Vitor Roque, que, aos 20 anos já vive altos e baixos, consigo mesmo; o renascimento do ótimo Antony; e a volta à cena da extraordinária Ana Moser, falando sobre a Lei de Incentivo ao Esporte.

Lá pela Europa, no meio da estação, Liverpool x Real Madrid e Bayern x PSG também marcaram a semana com jogos sensacionais.

No gol do time espanhol, a atuação do “porteiro” foi um espetáculo à parte.

Foi uma sequência impressionante de defesas “impossíveis”, mas que não impediram o gol decisivo numa cabeçada “à queima-roupa”. Coisas do futebol. •

Publicado na edição n° 1387 de CartaCapital, em 12 de novembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Momentos decisivos’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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