Opinião
Milton Rondó: O bem e o mal no mundo
Quando o tráfico de drogas é feito em avião da força aérea – em viagem presidencial – já fomos além do realismo mágico latino-americano


“É bem conhecida a ação da diplomacia, que, através de seus protagonistas, suas regras e seus métodos, é um instrumento que concorre para a construção do bem comum, chamado, antes de mais nada, a ler os fatos internacionais, que é também uma forma de interpretar a realidade. Essa realidade somos nós, a família humana em movimento, quase uma obra em contínua construção, que inclui o lugar e o tempo em que se materializa nossa história de mulheres e homens, de comunidade, de povo. A diplomacia é, portanto, um serviço, não uma atividade refém de interesses particulares, nas quais guerras, conflitos e formas diversas de violência são a lógica, ainda que amarga, consequência. Nem é, tampouco, um instrumento das exigências dos poucos que excluem a maioria, gerando pobreza e marginalização, tolerando todo tipo de corrupção e produzindo privilégios e injustiças.
À profunda crise de convicções, valores e ideias, a atividade diplomática oferece uma nova oportunidade, que é ao mesmo tempo um desafio. O desafio de contribuir para promover entre os diversos povos novas relações verdadeiramente justas e solidárias, em que todas as nações e todas as pessoas sejam respeitadas em suas identidades e dignidades, e apoiadas em sua liberdade.
Não basta evitar a injustiça, se não se promove a justiça.”
Papa Francisco
Nestes dias, assistimos a um festival de iniquidades, promovido por um golpe de Estado que, como os antecedentes de 1954/64 e por definição, não se sustenta. Apenas o crime continuado ainda o mantém, movido pelos interesses do capital internacional e dos governos que com ele convivem em relação de promiscuidade, de lenocínio.
Entretanto, mesmo entre os governos conservadores, a farsa rui. A chanceler (título da Chefe de Governo daquele país) Angela Merkel definiu a situação brasileira como “dramática”.
No domínio da terra plana, os agentes diplomáticos brasileiros foram orientados a “esclarecer” que, para o governo ilegítimo, o gênero se restringe à configuração dos órgãos sexuais.
Vale mencionar que o Brasil, nos governos legítimos de Lula e Dilma, fora o único país a solicitar que os documentos da ONU, sempre que se referissem a gênero, utilizassem a correta expressão “identidade de gênero”. Como bem noticiou o “Sensacionalista”, a NASA identificou que o Brasil está fazendo a terra girar para trás.
De fato, quando o tráfico de drogas é feito em avião da força aérea – em viagem presidencial – já fomos além do realismo mágico latino-americano. Estamos em ficção própria, vergonhosa, trágica mesmo.
Com efeito, em “Relato de um náufrago”, o prêmio Nobel Gabriel García Marquez leva-nos ao universo ficcional de um marinheiro colombiano, naufragado no mar do Caribe. A fragata da marinha colombiana em que ele servia naufragara em razão do excesso de peso – geladeiras e outros contrabandos trazidos a bordo pelos oficiais – após escala em Miami. Como vemos, a nossa atual realidade supera qualquer ficção.
Mas Deus também é brasileiro e não desampara (chamem a Deus amor, esperança, caridade; a fé que quisermos ou não quisermos ter).
Deu-nos Ele Glenn Greenwald. Um ser humano tão completo que não se deixa limitar/aprisionar/frustrar pela simplória e errônea identificação de gênero com genitália; de “animus” e “anima” com feminino e masculino. Uma rara pessoa com sentido real de liberdade, felicidade, completude.
Vamos, assim, ao outro lado da ficção: à fábula boa, em que o bem – a verdade – e o mal – a mentira – se encontram. Como predissera o Papa Francisco em carta ao ex-presidente Lula, a verdade prevalecerá.
Já vemos esse albor. A mentira desmorona, vira pó, literalmente.
Neste momento de transição, cabe à sociedade civil reforçar as redes. Ver, julgar e agir, como queria o Papa, hoje Santo, João XXIII.
Não podemos repetir a experiência de uma democracia não-sustentável. Cabe entender e fazer compreender que somos a galinha dos ovos de ouro, sob qualquer ângulo que vejamos. Daí, o atual ataque à nossa soberania e o roubo de nossas riquezas, como o pré-sal, a indústria aeronáutica, a civil, a naval etc.
Essa a razão para procurarem instalar uma base em nosso território, sob o olhar complacente e, pior, cúmplice das forças que deveriam proteger a soberania nacional, mas que, ao contrário, a entregam.
Como o demônio, as forças do mal são legião, mas só medram onde há desconhecimento, confusão e medo. Nada podem com a luz, a consciência e a coragem (a ação que vem do coração).
Concluo com o maior diplomata desta quadra, o Papa Francisco: “…o primeiro critério é amar com ações, não com palavras. As palavras, além de tudo, se vão com o vento: hoje existem; amanhã, não. O segundo critério de concretude é: no amor é mais importante dar do que receber.”
Obrigado Francisco, obrigado Glenn, obrigado Lula, livre!
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Milton Rondó: Se a juventude soubesse
Por Milton Rondó
Milton Rondó: As trevas não vencem a luz
Por Milton Rondó
Milton Rondó: Do mau
Por Milton Rondó
150 mil assinam petições por renúncia de Moro e em defesa de Glenn
Por Change.org
Governadores do Nordeste pedem afastamento de Moro e liberdade para Lula
Por Alexandre Putti